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29/11/2010 - 02h30

A diva Cher volta ao cinema com "Burlesque", que estreia em janeiro

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TETÉ RIBEIRO

O show começa às 19h30 em ponto no The Colosseum, o teatro do hotel Ceasar's Palace, em Las Vegas. A banda entra em cena e começa a tocar os primeiros acordes de "Still Haven't Found What I'm Looking For", do U2, quase no escuro. Então, do alto e à direita, para fora do palco, perto dos camarotes, começam a piscar as luzes de um trono suspenso, que desce em direção ao palco, na diagonal, com ela dentro.

Cher, ao vivo, de um disco voador. A vida tem poucos momentos melhores que este. Ela entra no palco com um macacão justo justo justo, feito de um tecido que parece de meia-calça transparente, com uns balangandãs que sacodem, brilham e escondem peitos, bunda e a área X na parte da frente.

Divulgação
A eterna diva Cher
A eterna diva Cher

rockstar
Ela anda de um lado para o outro no palco como rockstar, passos largos, cabelo esvoaçante e em cima de um salto de 12 cm. A roupa impede que músculos e pele se movam, está tudo durinho, pele grudada na carne, carne grudada no osso.

Bem depois do show, às 23h, quando a diva decide me receber no mesmo palco para uma entrevista, noto que a genética realmente foi generosa com ela. Está mais pesada, mas engordou por inteiro. Tem cintura, não tem barriga nem bunda caída.

De novidade, além do filme e da filha que virou filho (mais sobre os dois assuntos daqui a pouco), o lábio superior parece novo, a área que vai do nariz a ele foi certamente imobilizada, e aumentaram as maçãs do rosto. Mas tem pés de galinha, coisa rara em Hollywood.

Pergunto se dá muito trabalho ser a Cher aos 64. "Menos do que fantasiam as pessoas", responde. "Faço ginástica, mexo aqui e ali quando precisa, mas nunca tirei nenhuma costela. Fora isso, tenho dor nas costas e machuquei o pé, por isso não posso dançar". Conta que trabalhoso é fazer show em Vegas. "O clima é muito seco e tem muito ar-condicionado, minha garganta sofre. Hoje não cantei com muita clareza." Não percebi, só fiquei impressionada com a potência da sua voz. E ela, sem sinal de falsa modéstia: "eu nunca sou menos que boa ao vivo, mas ser boa é pouco, é para quem não pode ser excelente".

PRIMEIROS PASSOS
Cher sabe do que fala. Sua vida é cheia de altos muito altos e baixos muito baixos. Nasceu Cherilyn Sarkisian La Piere em 1946 em El Centro, Califórnia. Seus pais se casaram e se separaram três vezes, e além dele sua mãe teve outros cinco maridos. É descendente de armênios, índios cherokee e franceses. Deu seu primeiro passo em direção aos holofotes quando conheceu o ator Warren Beatty. Ela tinha 16 anos e ele 25 quando se apaixonaram. Foi seu primeiro namorado adulto, e quem deu força para que tentasse a sorte como atriz ou apresentadora de TV. Não deu tempo, ela conheceu o músico Sonny Bono, 11 anos mais velho, e virou cantora.

Juntos, gravaram em 1965 a música "I Got You Babe", que os catapultou para a fama. Entre 1971 e 1974, tiveram um programa na TV chamado "The Sonny and Cher Comedy Hour". O casamento acabou em 1975, e levou embora a ilusão de que Sonny cuidava dela com carinho. Com o divórcio ela ficou sem nada, e tinha que honrar um contrato que a proibia de trabalhar em música, TV ou cinema.

Sobreviveu como modelo nos anos 70, e só nos 80 conseguiu voltar ao cinema. Em 1983, foi indicada ao Oscar de melhor atriz por "Silkwood", ao lado de Meryl Streep. Levou o prêmio em 1988 por "Feitiço da Lua". Tinha 44 anos. Dez anos depois, gravou "Believe", seu maior sucesso musical até hoje.
Cher quase nunca dá entrevistas. Mas, quando resolve, faz sem frescura, sem censura, sem assuntos proibidos. É como se mandasse uma mensagem subliminar dizendo "faça o que eu faço, se conseguir".

E é sem frescura que responde sobre Chastity, sua filha com Sonny. No ano passado, quando completou 40 anos, decidiu fazer uma cirurgia para trocar de sexo. Mudou o nome para Chaz. "Acha que a culpa é minha?"

"Todo mundo acha, ninguém tem coragem de dizer. Talvez seja mesmo, ela não cresceu em uma casa normal, não teve uma mãe normal", diz, sem culpa. "Eu ainda me confundo na hora de falar ela ou ele. Fiquei furiosa quando soube que ela, ele, na época ainda era ela, me disse que era gay, acredita?", indaga. "Todo mundo age como um idiota uma vez ou outra", explica e encerra o assunto.

Cher também é mãe de Elijah Blue Allman, de 34 anos, filho de seu segundo marido, o músico Gregg Allman, com quem se casou em Las Vegas no fim de semana em que o conheceu. Ele era viciado em heroína e o casamento durou pouco. Cher criou os dois filhos sozinha. E nunca mais se casou. "Namorei muito, tive casos, amantes, namorados, mas marido nunca mais", conta. Entre eles, Tom Cruise, Richie Sambora (guitarrista do Bon Jovi), Eric Clapton, Val Kilmer e Gene Simmons (da banda Kiss). "No momento estou solteiríssima, mas não fechei as portas para o amor. Ia ser ótimo me apaixonar de novo."
Agora ela promove o musical "Burlesque", com Christina Aguilera, com estreia programada para o fim de janeiro no Brasil. Não fazia cinema há sete anos. "É muito chato fazer cinema, os diretores têm mania de começar tudo bem de manhãzinha e eu odeio acordar cedo", resume.

No filme ela é Tess, uma dançarina de neo-burlesque, um tipo de strip-tease menos explícita, que tem um clube e se apresenta toda noite. O negócio vai mal e ela corre o risco de perder o ponto. Paralelamente, acontece a história de Ali, uma jovem sonhadora que se apaixona por aquele estilo de show. A personagem é de Christina Aguilera, ou seja, pode esperar que uma hora ela solta o vozeirão.

"Não a conhecia antes do filme. Ela me perguntou muito sobre a minha vida, como eu fazia isso, como resolvia aquilo", diz sobre sua co-star. "Eram as mesmas perguntas que eu fazia a Meryl Streep nas filmagens de 'Silkwood', eu tinha ótimas respostas para tudo", lembra.

O filme não estava finalizado quando encontro Cher em Las Vegas. O estúdio mostrou uma seleção de 40 minutos com alguns números musicais e pedaços incompletos de cenas mais dramáticas. O musical de abertura é dela e a música tem o nome do longa, "Burlesque".

AO VIVO EM LAS VEGAS
E é a segunda que canta em seu show, uma das poucas novas do repertório. Mas antes, tira sarro dos homens da plateia. "Vejo as mulheres e os gays sorrindo e um bando de homens mal-humorados pensando 'vou ter que aturar essa velha louca, daqui a pouco volto a beber e a jogar'". O público ri, surpreso. Ela continua, dizendo que toda noite teme que a gaiolinha voadora se desprenda dos cabos que a seguram e caía em cima da plateia. "Vai ser breaking news: 'Cher morre em Las Vegas. Anônimos pouco importantes se machucam'. São vocês", ri.

A cada nova música depois dessa, a cantora troca tudo. Roupa, peruca, sapato, cenário. Tudo. A banda entra e sai de cena em dois palcos que deslizam para os lados e se escondem na coxia quando os cenários são mais importantes. O que acontece diversas vezes, já que durante as trocas de roupas ela sai de cena e dá lugar a números de circo e dança com a trupe de 18 atletas que a acompanha. É como um mini Cirque du Soleil entre um hit e outro.

Ela canta "All I Really Wanna Do", do Bob Dylan, faz um dueto com a imagem projetada de Sonny, morto em 1998, em "The Beat Goes On" e "I Got You Babe". O telão mostra cenas de seus filmes antes de ela sair de uma pérola gigante, cantando "Love Hurts". Depois, em um momento disco, faz uma colagem de"YMCA", "Disco Inferno" e "Don't Leave Me This Way", enquanto são projetados desenhos de suas roupas e figurinos mais marcantes, alguns deles exibidos como uma miniexposição na entrada do teatro.

No momento mais Cher, mais Vegas do show, entra de gôndola no palco. Então, como se tivesse andando sobre as águas, entoa "Walking in Memphis". Termina com "If I Could Turn Back Time", que canta com a mesma roupa do clipe, de bunda de fora e jaqueta de couro. O público não se conforma com o fim da apresentação, e ela sabe que quanto mais Cher, melhor. Então volta com "Believe", cujo refrão diz "você acredita na vida depois do amor?"
E na vida depois de Cher?

A carreira da diva
cabelão e pouca roupa marcaram o estilo da cantora

1946: Cher nasce dia 20 de maio em El Centro (California)
1963: Conhece e se apaixona por Sonny Bono, 11 anos mais velho
1969: Nasce Chastity, a única filha do casal
1971: Estreia na TV em "The Sonny and Cher Comedy Hour"
1974: Ganha o Globo de Ouro pelo programa de TV. Seria o último ano da união com Sonny, no trabalho e no casamento
1975: Em carreira solo, fica ainda mais famosa. Casa-se com Gregg Allman em Las Vegas
1975: Aparece na capa da revista Time
1985: Ganha o prêmio de melhor atriz em Cannes por "Marcas do Destino"
1988: Ganha o Oscar e o Globo de Ouro por sua atuação em "O Feitiço da Lua"
1990: Filma "Minha Mãe é uma Sereia" com Winona Ryder e Christina Ricci
1995: Grava "Walking in Memphis", uma homenagem a Elvis Presley
1998: Ganha o Emmy por "Believe"
2003: Ganha o prêmio Emmy pelo show "Cher: The Farewell Tour"
2008: Assina um contrato de US$ 180 milhões para ficar três anos em cartaz no The Colosseum, em Las Vegas, com o show "Cher"
2010: Filma "Burlesque"

 

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