Opinião: Colorido, o iPhone 5C pode ser 'velho', mas é bom para se exibir
Quando a Apple revelou sua versão mais barata do iPhone, na semana passada, muitos dos aficionados por tecnologia (eu incluída) resmungaram ou tiraram sarro do design brilhante e com aspecto de brinquedo de seu visual.
Para mim, essas carcaças com cor de doce se pareceram com um truque barato de marketing, uma revisão preguiçosa dos laptops iBook de quase uma década atrás. Pareceu-me uma divergência muito grande do visual minimalista e "clean" que se tornou a regra entre os dispositivos atuais da Apple.
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Mas um encontro com uma desconhecida neste final de semana me fez repensar a opinião original.
Entrei em uma cantina italiana para comprar um almoço para levar. Depois de pagar, me sentei para esperar pelo pedido e puxei meu iPhone para responder a algumas mensagens.
A jovem funcionária do caixa que me havia me atendido observava fixamente. "Quero um iPhone --já estou por aqui dessa coisa", disse, mostrando um grande dispositivo da Samsung.
"Sério?" disse eu, trocando para o "modo repórter". Ela tinha pouco a reclamar sobre o sistema operacional Android, mas, contou, simplesmente gostava do visual dos iPhones. Disse a ela que novos iPhones serão lançados dentro de alguns dias (nesta sexta, nos EUA) e seus olhos se abriram e ela concordou com a cabeça --ela quer um dos coloridos.
"Quero que as pessoas saibam que esse é um telefone novo", disse.
Justin Sullivan/AFP | ||
O iPhone 5c durante seu anúncio, na sede da Apple, em Cupertino, Califórnia |
Disse que eu estou desejando o dourado para mim, apesar de já ter um telefone perfeitamente bom no momento. Ela disse que o dourado e o prateado são bonitos, mas não chamativos o suficiente para ela. A maior parte das pessoas não seria capaz de distinguir o dourado só de bater o olho, disse.
A nossa conversa me fez ponderar sobre se minha reação instantânea à série C dos telefones não havia sido afobada.
Um dos principais pontos fortes do iPhone sempre foi sua marca e sua aura como um item de luxo, dispositivo que empresta a seu dono um nível sem paralelo dos fatores "legal" e "chique". Ter o mais novo iPhone ou o mais novo iPad é um sinal de status ainda mais forte.
É algo que fabricantes concorrentes vêm tendo dificuldade para replicar e uma reputação que poderia ser machucada com a apresentação de um dispositivo mais barato.
Mas com a evolução do iPhone de sua terceira geração (o iPhone 3GS) para o quarto e quinto modelos, algo interessante começou a acontecer: se tornou quase impossível distinguir os telefones. Em um olhar, o iPhone 4, o iPhone 4S e o iPhone 5 são praticamente idênticos.
É claro que isso acontece a repetição da fórmula do iPhone vem dando muito certo recentemente --e a Apple não vê lá tanta necessidade de melhorar o aparelho.
Mas, talvez, a Apple esteja percebendo que mesmo que não vejam motivo para mudanças significativas para seu modelo de topo de linha, eles ainda precisam corresponder à ânsia de consumo de seus fregueses, que querem exibir seus telefones tanto quanto uma bota de outono ou uma bolsa.
Originalmente, isso foi feito com o iPhone em si, depois com a introdução da App Store, os joguinhos legais e serviços que você poderia demonstrar para seus amigos. Mas o iPhone 5C, que é apenas marginalmente melhor que seus antecessores, é pensado para fazer pessoas se sentirem bem ao comprar essencialmente um telefone velho, mas em uma nova e colorida carenagem de plástico.
A psicologia do novo, em outras palavras, já que, para o bem ou para o mal, a Apple não tem a ver só com "ownership" (posse), mas também com "shownership" (posse e ostentação) --e com suscitar desejo e inveja dos que estão próximos a você.
É claro que isso é apenas uma anedota, mas é sobre ela que ficarei refletindo nos próximos dias, nas vésperas do lançamento dos novos iPhones.
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