Dados que amigos põem no Face ajudam a modelar o perfil do usuário; entenda
Cedo ou tarde, todos passamos por essa situação. Uma foto constrangedora cai direto na "linha do tempo", após alguém marcá-lo. Ou, então, um amigo dá check-in em um evento e, de quebra, diz que você também estava lá.
Esse tipo de informação, que especialistas definem como "incidental" –resultado de um "incidente"–, é somado aos dados que o próprio usuário fornece à companhia.
Marcações de terceiros, desse modo, servem não apenas para definir o perfil de quem realizou tal "tag", como também para entender melhor quem foi marcado.
Por exemplo: se um usuário é marcado por outra pessoa em um restaurante italiano, o Facebook passa a saber um pouco mais sobre o gosto culinário dele. A cada colherada, a rede constrói perfis publicitários mais exatos.
FOTOS E APLICATIVOS
No caso das fotos, a empresa utiliza as informações de marcação para alimentar o software Deepface, de identificação de rostos, desenvolvido pelo próprio Facebook.
Nos testes realizados pela companhia, segundo artigo publicado por cientistas da rede em parceria com a Universidade de Tel Aviv, em Israel, a exatidão chegou a ultrapassar os 97,5% de acerto, índice do olho humano.
Outra fonte de informação são os aplicativos de terceiros ligados à conta do Facebook. Se a pessoa usa um serviço de "streaming" conectado à rede, por exemplo, a mídia que consome é utilizada para aprimorar seu perfil publicitário.
O QUE A EQUIPE DE "TEC" DESCOBRIU AO BAIXAR SEUS DADOS...
O dia em que o Facebook me convenceu a comprar um sofá
Navegar no mar de dados que o Facebook me devolveu de forma compactada me mostrou o que era um achismo: como eu rejeito pedidos de amizades! Mas, uma vez a pessoa no meu rol, tenho pudores de excluí-la –foram apenas duas em quatro anos.
Nessa mesma linha, porém, sou usuária pesada da geladeira. É bem longa a listas cujas publicações eu escolhi não ver mais.
Longuíssima listagem é também a de locais de acesso, que comprova o vício em acessar o tempo todo.
E no quesito garimpar interesses, não é que o Facebook identificou e registrou meu atual interesse por reformas e acertou em cheio ao exibir um anúncio de sofás? Cliquei no bendito e comprei.
CAMILA MARQUES, editora de "Tec"
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Ele me acha depressivo, mas não temos um relacionamento sério
Eu e Facebook nunca tivemos um relacionamento sério. Larguei-o pela 13ª vez há uma semana. É complicado.
Quando baixei tudo o que guardou sobre nós, o Face expôs minhas preferências –os dias e horários favoritos de login eram segundas e quintas entre as 11h e as 12h. Lembrou ainda que troquei 49.776 mensagens em sua presença.
E os juízos de valor? Entre as categorias de anúncios atribuídas ao meu perfil está "depressão nervosa" (em inglês, "major depressive disorder"), como se eu estivesse triste com o nosso romance.
Ele também armazenou alguns endereços que frequentei, como o do hotel em que fiquei em Curitiba, a trabalho, em dezembro. Não gosto de me relacionar com alguém tão controlador.
ALEXANDRE ARAGÃO
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Rede social nos rouba o direito de esquecer e de ser esquecido
Tenho mais de 200 ex-amigos no Facebook. Gente com quem me indispus ou pessoas que não faziam parte da minha vida e nunca deveriam ter tido acesso a minhas informações pessoais. Há também algumas 'baixas de guerra' –inocentes feridos em batalhas que findaram relações amorosas. O número é próximo ao da minha lista de amigos atuais, de 299 pessoas.
Ao dificultar a exclusão de amigos e fotos, e registrar indefinidamente nomes, sobrenomes e datas de início e fim da 'amizade virtual' e mais um amontoado de dados, o Facebook me faz criar um laço perene que me rouba uma das coisas mais importantes que o mundo real precisa para funcionar: o direito de esquecer e ser esquecido.
ALEXANDRE ORRICO
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Passado maníaco no Farmville, mas vida adulta Jedi estabelecida
Acessar o histórico do meu Facebook estampou na minha tela um tempo em que ele tinha uma única utilidade para mim: jogar "Farmville". Entre 2009 e 2010, minha linha do tempo foi um amontoado de pedidos por tábuas, pregos, porcos e patos.
Antes disso, em 2008, eu praticamente não existia na rede. Hoje, apareço bem mais no Face, mas com pelo menos 400 laços cortados depois de parar e ver exatamente quem fazia parte da minha lista de 'amigos'.
Já o super algoritmo da rede mostrou conclusões reais sobre mim: fui enquadrada em vida adulta estabelecida (tenho quase 30), e recebi 19 menções a "Star Wars" para definir anúncios que são exibidos, revelando meu fanatismo.
STEFANIE OLIVEIRA
Livraria da Folha
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