Desenvolvedor de app para deficientes representa Brasil em 'copa' de start-up
O pernambucano Carlos Edmar Pereira nunca poderia imaginar que o aplicativo para tablets que criou para se comunicar com sua filha –que sofreu paralisia cerebral por erro médico no parto– poderia levá-lo à fama mundial entre tecnologias voltadas para pessoas com deficiência.
Depois de, em fevereiro, ser premiado pela ONU como o melhor aplicativo de inclusão do mundo durante evento realizado em Abu Dhabi –o que resultou em um contrato com a Liga Árabe, com uma narrativa pitoresca–, o empreendedor foi escolhido pelo Google como exemplo de tecnologia transformadora durante o evento para desenvolvedores I/O, em San Francisco, na quinta-feira passada (28).
Nesta quinta (4), Pereira e seu aplicativo Livox –que usa um sintetizador para dar voz ao usuário, que aponta na tela do aparelho o que quer dizer– serão os únicos representantes brasileiros no evento World Cup Tech Challenge, organizado por Microsoft, Qualcomm e outras empresas tecnológicas.
Pereira conta que, depois da cerimônia de premiação das Nações Unidas no Oriente Médio, foi aproximado por um senhor trajado com o lenço keffiyeh, como um sheik, que disse ser representante da organização supranacional Liga Árabe.
O homem, então, fez uma proposta de tradução e distribuição do aplicativo nos países da região em um contrato de, segundo ele, US$ 50 milhões por país para o qual seria levado, dos quais uma parcela ficaria com Pereira.
Desconfiado, o brasileiro conversou com os representantes da ONU sobre a ideia, e eles lhe deram sinal verde. "Explicaram que a organização [DLT, Distance Learning and Training Company, consórcio parceiro da Liga Árabe] é uma das patrocinadoras do evento."
"O homem me disse: 'vou falar com você durante cinco minutos. Se não fecharmos negócio agora, não será nunca mais'. Apertei a mão dele e, um mês depois, estava voando para a Arábia Saudita para assinar."
Arquivo pessoal | ||
O desenvolvedor Carlos Edmar Pereira (dir.) com Zuhair bin Ali Azhar, da DLT, na Arábia Saudita |
O software foi traduzido e agora está passando por um processo de readequação para a cultura islâmica. Nos próximos meses será decidido quantos e quais mercados receberão o app. "Há muitas pessoas pobres no Oriente Médio que precisam do software, e isso é agravado por muitos viverem em região de conflito", diz Pereira.
A competição desta semana, que será realizada na sede da Microsoft em Mountain View, Califórnia, tem outras 23 start-ups divididas em seis categorias (o Livox entra na de educação), como saúde, tecnologia futurista e finanças e teve na sua primeira edição, no ano passado, jurados do quilate de Megan Smith, chefe de tecnologia da Casa Branca.
Há um vencedor por grupo e um embate geral, do qual sai um campeão da "copa". A premiação, em dinheiro, não foi revelada.
Pereira também foi laureado como dono da inovação tecnológica com maior impacto de 2014, em outubro do ano passado, pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e firmou uma parceria com a empresa alemã SAP para levar adiante seu projeto.
Durante a conferência do Google figurou na apresentação que dá inicio e é a principal atração do evento (no vídeo abaixo, a partir do momento 1h28min10s).
Kathryn Welch, coordenadora de parcerias no Google, disse que a intenção de levar Pereira ao evento era "dar destaque para desenvolvedores que criam aplicativos inovadores e de grande impacto nos mercados emergentes".
"Durante nossa pesquisa, encontramos a história de Carlos e sua família e ficamos boquiabertos com o trabalho que ele fez e sua vontade de ajudar pessoas com deficiência. É um grande exemplo de como ajudar os próximos bilhões de usuários [da internet]", disse.
Google I/O 2015 - apresentação principal
O jornalista YURI GONZAGA viajou a convite do Google
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