análise
Twitter chega aos 10 anos por se manter fiel ao DNA do tempo real
Folhapress | ||
No distante 2009, alguém me desafiou a definir o Twitter num tuíte: "O Twitter é uma maquininha de cutucar corações e mentes na velocidade da luz. Em 140 toques ou menos, a imaginação é o limite".
Meu visível entusiasmo tinha um motivo central. Na época, era o âncora do "CQC". Pela primeira vez, podia ler no celular o que o público em casa comentava. Tudo em tempo real, tremenda novidade!
Antes, fazer TV era falar sozinho para uma câmera e imaginar um monte de gente do outro lado da lente. Depois do Twitter, me joguei na árdua e preciosa prática de ouvir o telespectador. Um a um.
Em menos de um ano, tinha 1 milhão de seguidores. Virei personagem de artigo sobre a nova mídia no "The Wall Street Journal" e iniciei algo inédito: debates com figurões da República. Num deles, o então bilionário Eike Batista ironizou minha sugestão para evitar financiamentos mandrakes do BNDES que poderiam levá-lo à ruína. Pena, né, Eike?
Com o Twitter, gente outrora intocável –empresas, governos, escolas, veículos de comunicação, artistas, jornalistas etc.– foi forçada à prática absolutamente fundamental e transformadora de ouvir clientes em tempo real.
Hoje, quando o Twitter faz dez anos, tenho mais de 9 milhões de seguidores. Na selva das redes sociais, há novos animais relevantes –Instagram, Snapchat–, além do já igualmente "idoso" Facebook. Mas creio que o Twitter chegou até aqui por se manter fiel ao seu DNA: o tempo real.
A ideia da comunicação em tempo real vem de longe, e seu inspirador tem nome e sobrenome: Arthur Clarke, autor de "2001: Uma Odisseia no Espaço", que provocou cientistas, nos anos 1940, a imaginar a Terra interligada por ondas vindas de artefatos espaciais. Inspirou o satélite e o primeiro evento transmitido em tempo real: a chegada do homem à Lua, em 1969.
Pela primeira vez, o planeta assistiu e comentou a mesma imagem ao mesmo tempo. A hashtag #HomemNaLua iria bombar naquele dia.
Que o passarinho do Twitter não desista da missão de ser o reloginho de ouvir o tempo real.
MARCELO TAS (@marcelotas ), 56, é apresentador de TV
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