Tirar a foto certa requer abrir o olho e ver o que há de mágico no lugar
Dizer que o fotógrafo peruano Mario Testino, 60, viaja muito é pecar por modéstia. Ele vive em Londres, mas viaja a cada três dias para realizar trabalhos em todo o mundo, produzindo campanhas para grifes de moda como Chanel, retratos com Gisele Bündchen e Kate Moss e a foto oficial do noivado entre o duque e a duquesa de Cambridge.
Seu mais recente projeto é o quinto Macallan Masters of Photography, uma iniciativa da Macallan, produtora de uísque sediada em Craigellachie, Escócia, que envolve campanhas para a marca confiadas a profissionais conhecidos da fotografia como Annie Leibovitz e Albert Watson.
O projeto levou Testino a Pequim. Ele passou três dias no hotel China Club, um ex-palácio do século 17, fotografando sua versão de uma festa black tie em um clube de uísque. A Macallan venderá uma edição limitada de quatro das fotos de Testino em companhia de uma garrafa de uísque, um blend de seis tipos diferentes de uísque single malt (disponível por US$ 3,5 mil em lojas de bebidas finas).
Na conversa abaixo, ele fala sobre como o destino de uma viagem orienta seu trabalho, oferecendo dicas para que os viajantes obtenham as fotos de férias perfeitas.
*
As imagens finais que a Macallan está lançando de sua passagem por Pequim mostram pessoas. Transmitir um senso de lugar –o fato de que você estava na China– é importante para você?
Comecei com a intenção de mostrar o entorno do China Club, mas quando vi todas aquelas pessoas juntas, me pareceu mais empolgante que houvesse uma indefinição sobre o lugar em que elas estavam. Podiam estar em qualquer lugar; essa era uma porta que me agradava deixar aberta.
Isso posto, transmitir um senso de lugar é importante para mim em meu trabalho. Adoro, por meio de minhas fotos, poder viajar por diferentes continentes e diferentes classes sociais, mas isso nem sempre é necessário. No caso em questão, os personagens estavam tão bem definidos que achei que o lugar podia ser um elemento supérfluo, e por isso escolhi não mostrar tanto o ambiente. Trabalhei em Pequim diversas vezes, no passado, e adoro a energia da cidade e sua mistura de histórico e moderno.
Já que você não é um fotógrafo de paisagens, até que ponto o destino de suas viagens realmente influencia sua obra?
É interessante. As pessoas às vezes dizem que não seria preciso viajar para alguns dos meus projetos, porque o lugar é irrelevante, mas fico tão empolgado por lugares diferentes que viajar simplesmente ajuda minha imaginação a disparar. É quase uma obsessão estar no lugar certo para capturar a imagem certa.
Você tem uma cidade favorita para trabalhar?
Adoro o Rio, Berlim e Nápoles, mas Londres, Nova York e Los Angeles são as cidades a que mais vou, e é fácil trabalhar nelas porque estão bem equipadas para o meu tipo de trabalho. Los Angeles, por exemplo, é o coração do mundo do cinema, e qualquer coisa que você queira fotografar existe lá, seja uma casa em estilo espanhol ou determinados tipos de roupa. Nem todo lugar é assim fácil. Pode não haver furgões de maquiagem e cabeleireiro para aluguel, o que importa para sessões fotográficas em locação, e talvez seja necessário trabalhar com menos opções de guarda-roupa.
Que dicas você tem para um viajante que queria garantir as melhores fotos de sua viagem? Fotografar bem requer ter a câmera certa?
Não é preciso uma câmera cara para conseguir capturar qualquer imagem. A câmera do celular basta; é o que eu uso quando não estou trabalhando. Tirar a foto certa requer abrir nos olhos e ver o que existe de mágico em um lugar. Acabo de fotografar a cidade de uma janela neste piso, e vi todos aqueles edifícios iluminados de um jeito tão bonito, uma coisa muito Nova York. Mas a magia muda a depender do lugar em que você está. Pode ser as pessoas, a paisagem, os animais ou até as velas na sala. É preciso ser curioso e encontrar essas imagens.
Quando você não está viajando profissionalmente, onde tira férias, e com que frequência tira fotos?
Viajo de férias duas vezes por ano, em geral para o Brasil ou para minha casa no Peru. Não tiro muitas fotos.
O que você considera equipamento essencial de viagem?
Se for uma viagem pessoal, não tenho uma lista. Não gosto de muita frescura. Se viajo a trabalho, são meus assistentes –tenho meia dúzia que viaja comigo. Se tenho uma sessão a fotografar, edito o trabalho no avião logo que termino, e quando pouso preciso começar os retoques. Hoje, trabalhamos digitalmente, e por isso tudo é manipulável, e você precisa determinar se quer a foto azul, verde, vermelha, com ou sem contraste, escura ou clara. Há muito a fazer, e estou sempre cercado de pessoas que me ajudam.
Jet lag é problema para você?
Para minha grande sorte, não. Consigo dormir em qualquer lugar e a qualquer hora. Mas preciso de oito horas de sono por noite.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade