ROBERTO DE OLIVEIRA
EM SÃO MIGUEL DOS MILAGRES (AL)

São 15h30 de uma tarde ensolarada na pequena São Miguel dos Milagres. À procura de um restaurante para saciar a fome depois da praia, o visitante começa a ser chamado pelo aroma do coentro das moquecas de camarão, quando um forte cheiro de esgoto se insinua, embrulhando o estômago.

Essa cena não é rara na praia de Porto da Rua, bairro que é uma espécie de centro urbano da cidade alagoana.

A depender do volume do esgoto e da chuva, a sujeira corre o risco de ir diretamente para o mar.

De acordo com Carol Lessa, 28, secretária de Turismo de Milagres, apenas cerca de 30% do município tem acesso ao saneamento, problema que pode se tornar ainda mais grave com o boom de construção de condomínios à beira-mar.

"A questão de saneamento é uma defasagem histórica, de muitos anos", diz Lessa. "Nosso principal problema é a falta de infraestrutura. Dependemos de verbas federais", afirma a secretária.

Cercada de coqueiros, com areia fina e dourada, a praia do Marceneiro é uma das mais encantadoras de São Miguel dos Milagres. Nos fins de semana, porém, não é difícil se deparar com lixo na avenida de acesso ao areal.
Muitas vezes, a própria orla fica suja, com restos de comida e latas de bebida.

"É importante que a comunidade local tenha consciência. Falta trabalhar uma política de sustentabilidade por aqui", continua Lessa.

SEM PRAZO

Uma das propostas da secretária de Turismo é desenvolver um projeto de coleta seletiva na cidade, mas ainda não existe um prazo definido para colocá-lo em prática. Com isso, o objetivo inicial é traçar projetos que auxiliem empresários e "trade" na execução de ações voltadas ao turismo sustentável.

"Já realizamos mutirões, inclusive envolvendo alunos das escolas, na limpeza de nossas praias", afirma.

Vale lembrar que São Miguel dos Milagres faz parte da Rota Ecológica, que abrange outros municípios vizinhos, como Porto de Pedras e Passo de Camaragibe.

"Como são cidades praticamente interligadas, esbarramos em outra questão de ordem política", diz Lessa.

Um lugar que vive do turismo de natureza, repleto de pousadas charmosas com restaurantes sofisticados, deveria tomar mais cuidado com o seu maior patrimônio: as praias paradisíacas.

Crédito: Luciano Veronezi/Folhapress
Crédito: Editoria de Arte/Folhapress
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