Corais de todo o mundo correm risco, diz pesquisa

Branqueamentos ficaram cinco vezes mais comuns nas últimas décadas

Reinaldo José Lopes
São Carlos

A vida dos corais do mundo todo nunca esteve tão dura, mostra um estudo publicado recentemente na revista Science. Os chamados eventos de branqueamento, que levam à morte desses invertebrados marinhos, ficaram cinco vezes mais comuns nas últimas décadas, e tudo indica que o culpado é o suspeito de sempre: o aquecimento global.

Peixes nadam nas proximidades de sequencias de corais que sofreram processo de branqueamento
Na Austrália, peixes nadam nas proximidades de corais que sofreram processo de branqueamento - Australian Institute of Marine Science/Damian Thomson/Reuters

“Antes dos anos 1980, o branqueamento em massa dos corais simplesmente não acontecia, mesmo durante fortes El Niños [durante os quais a temperatura dos oceanos, em especial no Pacífico, fica mais alta]”, declarou Terry Hughes, do Centro de Excelência em Estudos Sobre Recifes de Corais da Austrália.

“Agora, porém, sucessivas fases de branqueamento em escala regional e mortandade maciça de corais viraram o novo normal por todo o planeta, conforme as temperaturas aumentam.”

A cor esbranquiçada que os corais assumem durante esses eventos resulta da perda das algas microscópicas que, em condições normais, vivem em simbiose com eles. Estressados pelas temperaturas altas, os bichos expulsam as algas de seu esqueleto calcário, perdendo não apenas a cor como também os muitos nutrientes trazidos pela parceria com os micro-organismos.

Há décadas, isso só acontecia em escalas de, no máximo, algumas dezenas de quilômetros, durante ondas de calor intenso ou outros desastres localizados. Agora, a escala dos desastres pulou para áreas de cerca de 1.000 km quadrados.

Além disso, enquanto os pequenos branqueamentos do passado aconteciam a cada 30 anos, o tempo médio entre um desastre e outro hoje é de menos de seis anos, revelam as análises feitas por Hughes e seus colegas a partir de dados de uma centena de recifes espalhados pelo globo.

Isso é uma péssima notícia porque até os corais de crescimento mais rápido precisam de ao menos uma década para se recuperar da pancada de um evento de branqueamento —e muitas espécies são de recuperação bem mais lerda.

Outro ponto preocupante é que, enquanto no passado recente os problemas coincidiam com os picos de calor do El Niño, do ano 2000 para cá até as épocas de La Niña (fenômeno em que as águas oceânicas normalmente mais frias) têm sido tão quentes quanto os El Niños do passado —ou seja, raramente os corais são poupados. Em 2015-2016, por exemplo, três quartos de todas as áreas estudadas pelos pesquisadores sofreram com o branqueamento.

Tudo isso é péssima notícia não apenas para invertebrados e peixes marinhos como também para economias litorâneas do mundo todo: 6 milhões de toneladas de peixes para consumo humano são capturados anualmente nesses ecossistemas. Só no Sudeste Asiático, isso rende US$ 2,4 bilhões anuais.

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