Descrição de chapéu Financial Times mudança climática

Chefe do clima da ONU planeja reformulação das negociações anuais da COP após críticas

Delegações queixaram-se de falta de transparência e de pouco tempo para analisar rascunhos com temas importantes

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Camilla Hodgson
Sharm el-Sheikh (Egito) | Financial Times

O recém-nomeado chefe do clima da ONU está planejando uma reformulação da cúpula internacional anual para garantir que seja transparente e produza resultados após uma polêmica conclusão da COP27 deste ano no Egito.

Falando horas após o encerramento da conferência do clima na cidade turística egípcia de Sharm el-Sheikh, Simon Stiell, chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), disse que pretendia revisar o processo da COP para torná-la "o mais eficaz possível".

O evento deste ano terminou com alguns participantes importantes expressando insatisfação com o tratamento e as negociações no resort no mar Vermelho, que atraiu mais de 45 mil participantes.

Homem fala ao microfone em púlpito; ao fundo, um painel azul com desenhos que parecem raios de sol emoldura a sua cabeça
Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, na plenária de encerramento da COP27 no último domingo (20) em Sharm el-Sheikh (Egito) - Mohamed Abd El Ghany - 20.nov.2022/Reuters

Enquanto muitos países vulneráveis e em desenvolvimento elogiaram o acordo de um fundo para ajudar os países pobres a enfrentar as consequências das mudanças climáticas, outros criticaram o manejo da quinzena de negociações e disputas noite adentro que terminaram sem nenhum progresso nas metas de aquecimento global.

Alguns diplomatas questionaram a integridade da presidência egípcia da COP27. "Nunca experimentei nada assim: sem transparência, imprevisível e caótico", disse um delegado.

As equipes de negociação dos países tiveram um curto período de tempo nas primeiras horas da manhã de sábado (19) para revisar rascunhos de textos sobre várias questões importantes, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Esse "não foi um procedimento habitual", disse uma autoridade da União Europeia.

As conversas arrastadas levaram a cúpula a um segundo dia de prorrogação, e a sessão plenária final ocorreu no domingo, 20, depois das 3h.

Stiell esteve do outro lado do processo da COP como ex-ministro de resiliência climática e meio ambiente da nação caribenha de Granada, antes de sua nomeação em agosto para liderar a UNFCCC.

Ele disse que estava ciente das preocupações sobre a COP27 e revisaria a cúpula e o processo mais amplo da COP ao retornar ao secretariado da UNFCCC em Bonn, na Alemanha.

"O que faremos quando voltarmos para casa é revisar e procurar áreas de melhoria", disse ele ao FT.

Há elementos do processo que "podem ser melhorados", disse Stiell, e o órgão da ONU pretende fornecer recomendações para a próxima presidência dos Emirados Árabes Unidos antes da conferência de 2023.

"O processo precisa ser o mais simplificado possível, precisa ser o mais eficaz possível", disse ele.

A conclusão da COP27 no domingo atraiu reações mistas, com o ministro das Finanças de Tuvalu lamentando a "oportunidade perdida". Outros negociadores ocidentais culparam os países vizinhos produtores de petróleo e gás, como a Arábia Saudita, por diluir o acordo final.

E a presença de mais de 600 lobistas da indústria de combustíveis fósseis provocou reclamações de um grupo de cientistas e grupos de defesa do clima.

As horas finais da cúpula foram marcadas pela pressão de dezenas de países para se incluir a promessa de eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis, o que acabou não tendo sucesso.

Abordando a presença da indústria, Stiell disse que "você não pode ignorá-los".

"A questão é como você os envolve e onde eles se encaixam no processo", disse. "Acredito que é absolutamente essencial que o processo seja totalmente transparente."

Sobre a falta de transparência na COP27, Stiell disse: "Não posso responder, mas é algo que vou analisar".

Uma possível maneira de aperfeiçoar o processo talvez seja envolver as futuras presidências da COP ao lado da presidência eleita a cada ano, disse Stiell. "Podemos trabalhar juntos na criação de uma agenda ampliada?"

Apesar da decepção expressa por muitos com a conclusão da COP27, o chefe da UNFCCC disse que não foi um fracasso.

"Não houve retrocesso em um ambiente muito difícil, com a crise energética, onde se tem visto o aumento do uso de combustíveis fósseis", afirmou. A ausência de retrocessos foi "notável", mas para o próximo ano "há oportunidade de maior desempenho".

Na cúpula dos Emirados Árabes Unidos, no ano que vem, o foco no setor de energia "era um ponto de partida óbvio", disse Stiell. A ciência foi clara sobre a necessidade de "fazer a transição dos combustíveis fósseis".

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