Camada de ozônio deve se recuperar em quatro décadas, diz novo estudo

Uso do produto químico CFC diminuiu desde 2018, após anos em alta

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Henry Fountain
The New York Times

A camada protetora de ozônio na alta atmosfera poderá estar restaurada dentro de várias décadas, disseram cientistas na segunda-feira (9), já que as recentes emissões ilegais de produtos químicos destruidores de ozônio pela China foram na maior parte eliminadas.

Em uma avaliação patrocinada pela ONU, cientistas disseram que as emissões globais de CFC-11, produto químico proibido usado como refrigerante e em espumas isolantes, diminuíram desde 2018, após aumentarem durante vários anos. CFC-11 e produtos químicos semelhantes, chamados coletivamente de clorofluorcarbonos, destroem o ozônio, que bloqueia a radiação ultravioleta do sol que pode causar câncer de pele e prejudicar as pessoas e outros seres vivos.

Os cientistas disseram que, se as políticas atuais permanecerem em vigor, os níveis de ozônio entre as regiões polares deverão atingir níveis anteriores a 1980 até 2040. Buracos no ozônio, ou regiões de maior desgaste que surgem regularmente perto do polo sul e, com menos frequência, perto do polo norte, também deverão se recuperar, até 2045 no Ártico e cerca de 2066 na Antártida.

Homem trabalha em fábrica ao lado de um cilindro de gás
Fábrica de geladeiras em Xingfu, na China - Gilles Sabrié - 22.jun.2018/The New York Times

"As coisas continuam caminhando na direção certa", disse Stephen A. Montzka, químico pesquisador da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa) dos Estados Unidos e um dos autores do relatório. Montzka liderou um estudo em 2018 que alertou o mundo de que as emissões de CFC-11 vinham aumentando desde 2012 e que pareciam vir do leste da Ásia.

As investigações do The New York Times e outros sugeriram fortemente que a fonte eram pequenas fábricas no leste da China, que desconsideravam a proibição global.

As novas emissões ameaçaram minar o Protocolo de Montreal, o tratado negociado na década de 1980 para eliminar gradualmente o uso de clorofluorcarbonos em favor de produtos químicos mais benignos, depois que se descobriu que os clorofluorcarbonos estavam destruindo o ozônio atmosférico.

Na época, o chefe do Programa Ambiental da ONU, que supervisiona o protocolo, chamou a produção ilegal de CFC-11 de "nada menos que um crime ambiental que exige ação decisiva". Montzka e outros disseram que se as emissões perigosas continuassem poderiam atrasar a recuperação da camada de ozônio em até uma década.

Mas estudos de acompanhamento mostraram que as emissões estavam diminuindo, um sinal de que o governo chinês estava reprimindo com sucesso a nova produção de CFC-11. O relatório disse que as emissões perigosas provavelmente atrasaram a recuperação da camada de ozônio em um ano.

O CFC-11 chinês teria sido usado como agente de expansão na fabricação de espuma de isolamento. Durante a produção de espuma, parte do CFC-11 escapa para a atmosfera, onde pode ser detectado e medido, mas grande parte fica contida na espuma à medida que ela endurece.

Desta forma, disseram os pesquisadores, a produção chinesa ilegal contribuiu para os "bancos" de clorofluorcarbonos que foram produzidos em todo o mundo antes das proibições entrarem em vigor e estão em espumas, equipamentos de refrigeração e sistemas de extinção de incêndio. Esses produtos químicos existentes ainda não estão na atmosfera, mas são liberados lentamente através da deterioração e destruição da espuma, vazamentos ou outros meios.

área azul central, cercada por cores vermelhas, laranjas e amarelas
Em azul, buraco na camada de ozônio sobre a Antártida, em imagem de 2021 - Copernicus

Montzka disse que não se sabe o tamanho da contribuição chinesa aos bancos. "Mas se os bancos foram aumentados substancialmente, isso acrescentaria mais alguns anos ao atraso esperado na recuperação", disse ele.

Durwood Zaelke, presidente do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável, uma organização de pesquisa e defesa com sede em Washington, disse que a eliminação das emissões ilegais foi outro exemplo do sucesso do protocolo, que geralmente é considerado o pacto ambiental global mais eficaz já promulgado.

O monitoramento atmosférico, exigido pelo protocolo, detectou o problema, disse Zaelke, e o levou ao conhecimento da diretoria do tratado. "Sem admitir culpa, as partes ofensoras agiram juntas", disse ele. "E as medições estão novamente onde deveriam estar."

De acordo com o protocolo, avaliações como a divulgada na segunda-feira são exigidas pelo menos a cada quatro anos. Além dos cientistas da Noaa, os colaboradores incluíram pesquisadores da Nasa, da Organização Mundial de Meteorologia, do Programa Ambiental da ONU e da Comissão Europeia.

A nova avaliação foi a primeira a considerar os efeitos no ozônio de um tipo potencial de intervenção climática, ou geoengenharia, destinada a resfriar a atmosfera. O método, chamado injeção estratosférica de aerossóis, usaria aviões ou outros meios para espalhar aerossóis de enxofre na atmosfera, onde eles refletiriam parte dos raios solares antes de atingirem a superfície.

A ideia gerou forte oposição. Entre outras objeções, os oponentes dizem que intervir no clima dessa maneira pode ter graves consequências não intencionais, alterando potencialmente os padrões climáticos em todo o mundo. Mas muitos cientistas e outros dizem que pelo menos a pesquisa é necessária, porque o aquecimento pode chegar a um ponto em que o mundo fique desesperado para tentar tal técnica de intervenção, talvez temporariamente, para ganhar tempo antes que as reduções de gases do efeito estufa tenham um efeito significativo.

David W. Fahey, diretor do Laboratório de Ciências Químicas da Noaa e copresidente do painel de avaliação científica do protocolo, disse que alguns estudos mostraram um impacto dos aerossóis de enxofre no ozônio, por isso a equipe de avaliação foi encarregada de investigá-lo.

O protocolo "existe para proteger a camada de ozônio, e fizemos um bom trabalho ao lidar com substâncias que destroem a camada", disse ele. Examinar a injeção de aerossol estratosférica "está na nossa sala de comando", acrescentou.

Há muita incerteza em suas descobertas, disse Fahey, mas a mensagem básica é que tentar resfriar o planeta em 0,5 °C, por exemplo, por meio do uso de aerossóis de enxofre, teria algum efeito no ozônio. Mas "não destruirá a camada de ozônio e terá consequências catastróficas", disse ele.

"Na verdade, já sabíamos disso porque o Monte Pinatubo fez o experimento para nós", disse ele, referindo-se à enorme explosão vulcânica nas Filipinas em 1991 que enviou enormes quantidades de gás sulfúrico para a estratosfera, criando uma névoa de aerossol semelhante a um trabalho de geoengenharia.

Essa erupção esfriou temporariamente o planeta em cerca de 0,5°C, disse Fahey. Mas a camada de ozônio não entrou em colapso. "Ela tem resiliência", afirmou ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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