Descrição de chapéu The New York Times

Centenas de leões-marinhos estão morrendo na Califórnia. A culpa é das algas?

Infestação pode ter sido agravada pela atividade humana; dezenas de golfinhos também são vítimas

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Livia Albeck-Ripka
The New York Times

As ligações vieram, uma após a outra, com relatos de leões-marinhos balançando a cabeça para frente e para trás, espumando pela boca ou caídos na praia, mortos. Equipes de resgate ao longo da costa central da Califórnia (EUA) se esforçaram para capturar os animais doentes na esperança de salvá-los. Centenas de leões-marinhos e dezenas de golfinhos já morreram.

Acredita-se que os mamíferos marinhos —considerados espécies "sentinela" por causa do que informam aos humanos sobre a saúde do oceano— estão adoecendo devido a uma infestação de algas nocivas que ocorrem naturalmente, mas podem ser agravadas pela atividade humana.

A alga, chamada Pseudo-nitzschia, produz uma neurotoxina, o ácido domoico, que sobe na cadeia alimentar das anchovas aos leões-marinhos e golfinhos, causando letargia, desorientação, vômitos, olhos esbugalhados, espasmos musculares, convulsões e, em casos graves, morte.

Animais mortos encalhados em uma praia
Leões-marinhos e golfinhos mortos na Califórnia apresentam sinais de contaminação por ácido domoico - Staci Kaye-Carr/Channel Islands Marine & Wildlife Institute

Os animais estão aparecendo doentes e encalhados ao longo da costa de Santa Barbara até o condado de San Luis Obispo.

As equipes de resgate dizem que este é um dos piores eventos de intoxicação em massa que já viram. E estamos só em junho (início do verão no hemisfério norte).

"É realmente muito triste", disse Michelle Berman Kowalewski, bióloga e diretora da Unidade de Pesquisa de Cetáceos das Ilhas do Canal, organização sem fins lucrativos que tem cuidado dos golfinhos encalhados.

A proliferação de algas não é rara, mas Kowalewski disse que, mesmo num ano ruim, ela pode atender de 30 a 40 golfinhos intoxicados. "Este ano tivemos uma média de dez animais por dia em dez dias", disse ela.

Ao mesmo tempo, mais de mil banhistas preocupados relataram mamíferos marinhos mortos e doentes ao Instituto de Vida Silvestre e Marinha das Ilhas do Canal, organização de conservação sem fins lucrativos que resgata e reabilita animais marinhos. Voluntários têm respondido aos apelos, capturando animais presos em redes e levando-os ao centro de tratamento do instituto.

"Estamos fazendo o melhor que podemos para acompanhar o ritmo intenso", disse Ruth Dover, diretora-gerente do instituto, à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa). "Por favor, continuem a relatar todos os mamíferos marinhos doentes e feridos, pois estamos socorrendo o máximo de animais possível, o mais rápido possível, todos os dias", disse ela.

Grupos de conservação aguardam os resultados dos testes para confirmar o que está deixando os animais doentes, mas seus sintomas, combinados com altas concentrações de ácido domoico do condado de Orange ao condado de San Luis Obispo, indicam que a toxina é a provável culpada.

Embora a proliferação de algas ocorra naturalmente, acredita-se que as atividades humanas que perturbam os ecossistemas desempenhem um papel em sua maior frequência e intensidade. Isso inclui poluição e mudanças climáticas, de acordo com a Noaa.

Um episódio semelhante em agosto causou o encalhe de dezenas de leões-marinhos. Um grande número de mamíferos marinhos também morreu devido à toxina em 2015 e 2007.

O ácido domoico pode afetar os seres humanos que consumirem frutos do mar contaminados, como mexilhões ou caranguejos. O Departamento de Saúde Pública da Califórnia monitora de perto as empresas de pesca em busca de toxinas, fechando-as ocasionalmente.

Na semana passada, o departamento alertou contra o consumo de mexilhões, mariscos ou vieiras colhidos recreativamente no condado de Santa Barbara, depois que "níveis perigosos" de ácido domoico foram detectados em mariscos. Está em vigor uma quarentena desses moluscos ao longo da costa da Califórnia.

Kowalewski disse que, por enquanto, ela e sua equipe estão sobrecarregadas, mas continuarão respondendo aos chamados e tentarão estudar os golfinhos mais profundamente, esperando que a proliferação de algas termine.

"Estou exausta", disse Kowalewski. "Outro modo de ver, porém, é que não temos eventos como esse com frequência. Então, quando surgem esses momentos, é importante obtermos o máximo de conhecimento possível."

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