Novo documentário mostra pesquisas do Antropoceno na Bahia

Produção apresentada por Marcos Palmeira estreia em setembro nos cinemas

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São Paulo

O Antropoceno, proposta de nova época geológica que seria marcada pela atividade humana, ganhou uma sugestão de "golden spike", ou ponto de referência, para estudo e comparação com outros lugares do mundo. É o lago Crawford, no Canadá, que concentra milhares de anos de informações em camadas de lama, incluindo partículas de combustão e radioativas dos anos 1950 —ponto que, segundo propõem os pesquisadores, caracteriza o começo da época dos humanos.

Um dos motivos para a escolha de elementos como os de testes nucleares é que eles foram espalhados por todo o mundo por ação humana, algo que não ocorreria naturalmente. O lago na província de Ontário foi anunciado em uma conferência em Berlim na tarde desta terça-feira (11) pelo grupo de trabalho do Antropoceno, parte da Comissão Internacional de Estratigrafia.

Barco na beira de um rio, visto de cima
Cena do documentário 'A Era dos Humanos', que aborda o impacto da atividade humana no planeta - Divulgação

A quase 5.000 quilômetros dali, cientistas brasileiros também encontraram resquícios desses experimentos. Uma coleta de lama na região de Caravelas, no litoral da Bahia, mostrou traços de Césio-137, material usado em testes com bombas nucleares.

Esses indícios —encontrados mesmo em locais distantes de pontos de testes nucleares (caso de Caravelas e do lago Crawford)— reforçam a marca humana na Terra, a ponto de estabelecer uma nova época geológica, que substituiria o atual Holoceno, segundo pesquisadores.

Inaugurar essa época, para além do significado científico, serve de alerta para as decisões que a humanidade tem tomado para viver em um planeta que já enfrenta mudanças climáticas significativas, destacam os cientistas. Desmatamento, queimadas e o uso de combustíveis fósseis já deixaram também a pegada do homem no planeta.

É o que mostra o documentário "A Era dos Humanos", produção do Grupo Storm com apresentação do ator Marcos Palmeira, que chega aos cinemas no Dia da Amazônia, em 5 de setembro. Em outubro, o filme será dividido em episódios e exibido na plataforma Globoplay.

Segundo a diretora Iara Cardoso, que também assina o roteiro, a produção durou três meses de viagens entre o litoral e outras regiões do país, como a Amazônia, da mata fechada a áreas queimadas.

"As mesmas medições feitas no Canadá foram feitas aqui em Caravelas com o Rubens, e isso mostra o quanto esse assunto está próximo de nós", afirma Cardoso.

As amostras coletadas no filme são de uma pesquisa sobre indícios do Antropoceno que teve participação de pesquisadores de São Paulo, Pará, Pernambuco, Paraná e do Uruguai. Há dez anos o grupo faz coletas em diversas áreas —Caravelas, na Bahia, é uma delas. Um dos autores da pesquisa retratados no filme é Rubens Figueira, do Instituto Oceanográfico da USP.

"A gente consegue contar uma história a partir desses testemunhos: material do fundo do mar, de lagos e de rios", afirmou o pesquisador. "No documentário, a ideia foi partir de o que conseguimos ver nas explosões atômicas, que é um registro do homem na década de 1960. Na questão ambiental, o cobertor é curto, precisamos de mais união e discussão para agir."

A Era dos Humanos

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