Descrição de chapéu Financial Times mudança climática clima

John Kerry pede que chefes de petróleo e gás levem planos contra mudança climática à COP28

Enviado dos EUA para o clima cobra comprometimento da indústria com energias renováveis e cortes de emissões até 2030

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Attracta Mooney Aime Williams
Londres e Washington | Financial Times

O enviado climático dos Estados Unidos, John Kerry, tem se reunido com líderes globais da indústria de petróleo e gás para pedir que eles apresentem planos concretos para impulsionar as energias renováveis e reduzir as emissões de gases do efeito estufa até 2030 na próxima cúpula climática da ONU.

Os especialistas e ativistas climáticos estão preocupados que a COP28, que será realizada nos Emirados Árabes Unidos dentro de três meses, se torne uma "COP do petróleo", com a indústria tendo um papel desproporcional nas discussões para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Kerry disse ao Financial Times que acredita ser vital que a indústria do petróleo e do gás se envolva nas negociações climáticas da ONU e seja responsabilizada por seu envolvimento no aquecimento global.

Retrato de Kerry discursando com o dedo indicador direito em riste
John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, durante discurso em evento em Edimburgo (Escócia) na última semana - Robert Perry - 24.ago.2023/Pool/AFP

"Temos que colocar a indústria de combustíveis fósseis na mesa. Temos de trazê-los para este esforço, e eles têm de se juntar a nós sendo responsáveis", disse ele numa entrevista, acrescentando que as metas da indústria estabelecidas para 2050 não são suficientes e é necessário um compromisso para atingir emissões líquidas zero de carbono.

Kerry disse que pediu aos executivos do petróleo e do gás que apresentem planos na COP28 para reduzir suas emissões diretas e as emissões derivadas da energia que compram, conhecidas como emissões de escopos 1 e 2, até 2030.

Ele também pediu que definam compromissos de alocação de capital para energias renováveis até 2030, bem como um padrão para tecnologia de captura, utilização e armazenamento de carbono, que visa capturar as emissões de CO₂. Isto garantiria que "estamos realmente reduzindo as emissões, não simplesmente prolongando esse processo", disse ele.

"A questão é: pode-se colocá-lo em escala? Podemos fazer com que este processo funcione bem e seja grande o suficiente para permanecermos na curva [do Acordo] de Paris [para um aumento de temperatura de 1,5°C]? Isso tem que chegar a zero até 2050, ou melhor. E acho que essa é a principal questão agora."

A liderança dos Emirados na COP28 está organizando uma aliança comandada por empresas de petróleo e gás que estabeleceria uma meta de atingir zero líquido nas emissões de escopos 1 e 2 até 2050, conforme relatado anteriormente pelo FT.

O ex-secretário de Estado dos EUA também disse que conversou nos últimos dias com o ministro da Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, e que se reunirá em breve com o executivo-chefe da Saudi Aramco.

Isto surge na sequência de discussões com outros líderes de empresas de petróleo e gás, incluindo Bernard Looney, da BP, sobre os planos para as alterações climáticas, à medida que recuam dos planos anteriores de reduzir a quantidade de petróleo e gás produzida até 2030.

Nas mais recentes reuniões do G20 sobre energia e clima, os ministros das maiores economias do mundo não conseguiram chegar a acordo sobre as metas para reduzir as emissões perigosas, tendo a Arábia Saudita e a China sido identificadas por negociadores de outros países por obstruírem qualquer progresso.

A Arábia Saudita é o maior fornecedor de petróleo da China e foi convidada na semana passada a aderir ao bloco expandido de mercados emergentes dos Brics. Os Estados Unidos reiniciaram recentemente as discussões sobre o clima com a China, mas o cenário internacional abalado, incluindo tensões sobre Taiwan e comércio, impediu o progresso.

Embora os EUA continuem a ser o maior produtor mundial de petróleo e gás, Kerry enfatizou sua rápida mudança para as energias renováveis por meio de legislação emblemática que oferece US$ 369 bilhões em subsídios para tecnologia e manufatura verdes.

Ele disse que isso desencadeou uma onda de investimentos nos EUA que não poderá ser desfeita por qualquer futuro governo republicano, apesar de a maioria dos pré-candidatos presidenciais do partido não terem reconhecido as mudanças climáticas.

"Nenhum político pode desfazer o que está acontecendo agora", disse Kerry. "Por quê? Porque o mercado tomou sua decisão. Vocês acham que esses CEOs vão reconstruir fábricas que produzem [o motor de] combustão interna? Não."

"O setor privado vai fazer isso porque há dinheiro a ser ganho, muito dinheiro. Essa é a nova revolução industrial", acrescentou.

Sobre a decisão do Reino Unido de conceder centenas de novas licenças de petróleo e gás no Mar do Norte com uma estratégia declarada do governo Rishi de "maximizar" a produção, Kerry disse: "Essa não é a nossa política".

"Não vamos fazer a ‘última gota’", acrescentou. "Estamos tentando fazer a transição."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.