China e EUA anunciam aliança para substituir combustíveis fósseis e aumentar energias renováveis

Anúncio ocorre antes de encontro de Joe Biden e Xi Jinping

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Lisa Friedman
The New York Times

Os Estados Unidos e a China, os dois maiores poluidores do mundo, concordaram em enfrentar juntos o aquecimento global, aumentando as energias eólica, solar e outras renováveis, com o objetivo de substituir os combustíveis fósseis, informou o Departamento de Estado dos EUA nesta terça-feira (14).

O anúncio ocorreu antes de o presidente americano Joe Biden se reunir, nesta quarta-feira (15), com o presidente chinês Xi Jinping, para sua primeira discussão presencial em um ano. O acordo climático pode surgir como um ponto positivo nas conversas, que provavelmente se concentrarão em tópicos sensíveis, incluindo Taiwan, a Guerra da Ucrânia e o conflito entre Israel e o Hamas.

As declarações de cooperação divulgadas separadamente pelos Estados Unidos e pela China não incluem uma promessa da China de eliminar gradualmente seu intenso uso de carvão, o combustível fóssil mais poluente, ou de parar de permitir e construir novas usinas de carvão. Isso tem sido um ponto de discordância durante meses de discussões entre os EUA e Pequim sobre mudanças climáticas.

Mas ambos os países concordaram em "empreender esforços para triplicar a capacidade de energia renovável globalmente até 2030". Esse crescimento deve atingir níveis suficientemente altos "para acelerar a substituição da geração de carvão, petróleo e gás", diz o acordo.

Os dois brindam com taças de champagne
Xi Jinping e Joe Biden em brinde durante evento em 2015 em Washington - Paul J. Richards - 25.set.2015/AFP

Ambos os países antecipam uma "redução significativa absoluta das emissões do setor de energia" nesta década, diz o acordo. Isso indica que pode ser a primeira vez que a China concorde em reduzir as emissões em qualquer parte de sua economia.

O acordo ocorre duas semanas antes de representantes de quase 200 países se reunirem em Dubai como parte das negociações climáticas das Nações Unidas conhecidas como COP28. Os Estados Unidos e a China têm um papel de destaque a desempenhar lá, enquanto as nações debatem se devem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

Neste mês, John Kerry, enviado climático de Biden, se reuniu com seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, na propriedade Sunnylands, na Califórnia, para estabelecer as bases do acordo anunciado na terça-feira.

"A declaração de Sunnylands sobre o aprimoramento da cooperação para enfrentar a crise climática afirma que os Estados Unidos e a China reconhecem que a crise climática tem afetado cada vez mais os países ao redor do mundo."

"Os dois países enfatizam a importância da COP28 em responder de forma significativa à crise climática durante esta década crítica e além" e se comprometem na declaração "a enfrentar um dos maiores desafios de nosso tempo para as gerações presentes e futuras da humanidade".

Como parte do acordo, a China concordou em estabelecer metas de redução para todas as emissões de gases de efeito estufa. Isso é significativo porque a meta climática atual da China aborda apenas o dióxido de carbono, deixando de fora o metano, o óxido nitroso e outros gases que estão atuando como um cobertor ao redor do planeta.

O metano é liberado pelas operações de petróleo e gás, assim como pela mineração de carvão, e pode ser até 80 vezes mais potente como gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono a curto prazo.

O governo chinês divulgou na semana passada um aguardado plano para lidar com o metano, mas os analistas o consideraram ineficaz porque não incluía metas de redução de emissões.

O acordo de Sunnylands também não possui metas, mas afirma que os dois países trabalharão juntos para defini-las.

A China se recusou a aderir ao Compromisso Global do Metano, um acordo entre mais de 150 nações, liderado pelos Estados Unidos e pela Europa, que promete reduzir coletivamente as emissões em 30% até 2030.

Os Estados Unidos e a China também concordaram que no próximo conjunto de compromissos climáticos —que as nações devem apresentar até 2025— a China estabelecerá metas de redução de emissões em toda a sua economia. Seu compromisso atual prevê que as emissões de dióxido de carbono atinjam o pico antes de 2030, mas não especifica quão altas elas podem chegar antes da curva começar a se dobrar, nem especifica em quanto poderá reduzir as emissões.

Manish Bapna, presidente do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, um grupo ambiental, elogiou o acordo entre os Estados Unidos e a China e o chamou de "uma base de ambição" antes da cúpula climática da ONU em Dubai.

"Isso envia uma mensagem poderosa de cooperação para o desafio existencial de nosso tempo", disse Bapna. "O que é importante agora é que ambos os países cumpram a promessa de hoje."

O acordo é o resultado de meses de negociações entre Kerry, 79 anos, e Xie, 73 anos, amigos e parceiros de debate sobre o clima há mais de 25 anos. Ambos deixaram a aposentadoria para se tornarem enviados especiais para o clima de seus países e têm defendido a diplomacia em relação às mudanças climáticas dentro de seus governos. Xie, que sofreu um derrame no ano passado, deve se aposentar após a cúpula da ONU em Dubai.

Suas negociações chegaram a um impasse em 2022 depois que Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Deputados, viajou para Taiwan, uma ação vista como provocativa por Pequim. Em seguida, este ano, um caça americano derrubou um balão espião chinês que havia flutuado sobre os Estados Unidos continentais.

Em julho, em meio aos esforços do governo Biden para melhorar os laços, Kerry viajou para Pequim.
Esse esforço não resultou em sucesso. Xi aproveitou a oportunidade da visita de Kerry para fazer um discurso declarando que a China nunca seria "influenciada por outros" em relação aos seus objetivos climáticos.

Ainda assim, Kerry disse, em tom otimista, à época que "preparamos o terreno" para um acordo.
Quando se trata de mudanças climáticas, nenhuma relação é tão importante quanto a entre os Estados Unidos e a China.

Os Estados Unidos, o maior poluidor climático da história, e a China, o atual maior poluidor, juntos são responsáveis por 38% dos gases de efeito estufa do mundo.

Isso significa que a disposição dos dois países em reduzir urgentemente as emissões determinará essencialmente se as nações podem limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Esse é o limite além do qual os cientistas dizem que incêndios florestais, inundações, calor e seca cada vez mais severos superarão a capacidade da humanidade de se adaptar. O planeta já aqueceu 1,2°C.

Mas nem os Estados Unidos nem a China agirão rapidamente a menos que o outro também o faça. Ambas as nações estão tomando medidas para combater as emissões, mas setores mais "linha-dura" dos países argumentam que o outro não está fazendo o suficiente —e ambos têm interpretado as promessas climáticas do outro como falsas.

Apesar de os Estados Unidos terem reduzido suas emissões, autoridades chinesas afirmaram que a meta americana de reduzir a poluição em pelo menos 50% em relação aos níveis de 2005 até o final desta década é inadequada.

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