Manifestantes indígenas interrompem audiência sobre a Ferrogrão

Mundurukus e kayapós afirmam que não foram consultadas sobre o projeto

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Reuters

Manifestantes indígenas tentaram impedir, nesta sexta-feira (15), uma audiência pública sobre a construção de uma ferrovia que deverá passar por suas terras para transportar grãos até um porto no norte da amazônia.

A ferrovia Ferrogrão, com 1.000 km de extensão, é apoiada por agricultores e empresas de grãos que afirmam que ela reduziria a dependência de estradas e diminuiria os custos de transporte de soja de Mato Grosso para os portos fluviais na bacia amazônica.

Mas os povos indígenas munduruku e kayapó afirmam que não foram consultadas sobre o projeto, que tem impactos sobre o meio ambiente e o desmatamento na região.

Cerca de cem manifestantes segurando faixas bloquearam a entrada da audiência em Novo Progresso, no sul do Pará. A reunião começou quando os manifestantes deixaram o prédio, como mostram vídeos nas redes sociais publicados pelos participantes.

Policial conversa com mulher e outros indígenas ao fundo
Alessandra Munduruku e manifestantes indígenas conversam com policial durante protesto em local de reunião sobre a ferrovia Ferrogrão em Novo Progresso (PA) nesta sexta (15) - Well Kumaruwara/Divulgação via Reuters

"A ferrovia é um projeto de desenvolvimento que vai ser bom para todo mundo," disse um de seus principais apoiadores, o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), aos manifestantes.

Liderando o protesto estava Alessandra Munduruku, vencedora do Goldman Environmental 2023 por seus esforços para impedir o desenvolvimento da mineração na amazônia e proteger a floresta.

"A gente não tem como deixar acontecer uma audiência que vai contra nosso território. Estamos preocupados pelo futuro de nossas crianças," disse Alessandra Munduruku à Reuters por telefone.

"O povo está preocupado com a mudança climática, mas o Congresso está preocupado em lucrar com nossas terras", acrescentou, em referência à votação parlamentar da véspera que derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao marco temporal para demarcação de terras indígenas.

Indígenas com o rosto pintado
Alessandra Munduruku (à frente) liderou protesto de indígenas contra a Ferrogrão em Novo Progresso (PA) nesta sexta-feira (15) - Well Kumaruwara/Divulgação via Reuters

A decisão sobre o estabelecimento ou não de prazo para reivindicações de terras será agora decidida pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Em agosto, em uma decisão sobre a Ferrogrão, o STF manteve a suspensão de um plano governamental para reduzir o tamanho de um parque de conservação florestal para permitir a construção da ferrovia, enquanto novos estudos são esperados.

A ferrovia foi projetada para ligar o porto de Mirituba, no Pará, ao município de Sinop, em Mato Grosso.

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