Como a mudança climática tornou os incêndios florestais no Chile tão mortais

Cientistas dizem que o principal impulsionador das queimadas em larga escala são as temperaturas mais altas

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Reuters

Sobreviventes dos recentes incêndios florestais mortais no Chile descreveram um pesadelo infernal, um furacão de bolas de fogo saltando de colina em colina, iluminando tudo em seu caminho em questão de segundos.

Embora a região enfrente incêndios florestais quase todos os anos, a velocidade e a letalidade do incêndio da semana passada foram sem precedentes. Pelo menos 131 pessoas morreram e centenas ainda estão desaparecidas no que foi o pior desastre natural do país em anos.

Os cientistas dizem que o principal fator impulsionador de um evento tão devastador é simples: temperaturas mais altas.

Bombeiros apagam focos de incêndio em meio às árvores, cercados por vegetação carbonizada e nuvens de fumaça
Bombeiros combatem focos no Jardim Botânico de Viña del Mar, Chile, atingido pelos incêndios florestais - Javier Torres - 4.fev.2024/AFP

Parte da razão pela qual os incêndios florestais se espalharam numa área tão grande e tão rapidamente foram os ventos fortes. Raul Cordero, climatologista da Universidade de Santiago, diz que ventos fortes de verão são comuns no centro do Chile, já que o ar que desce da cordilheira dos Andes e de outras áreas elevadas se comprime e aquece.

"O que é diferente desta vez é que as temperaturas estavam muito mais altas do que antes", disse Cordero. Ele observou que a região estava passando por uma onda de calor provavelmente causada pela mudança climática e pelo fenômeno El Niño, quando as temperaturas da água anormalmente quentes ao largo da costa do Pacífico da América do Sul afetam os padrões climáticos globais.

"O que aconteceu na semana passada não é normal", afirmou o pesquisador.

Além da onda de calor que trouxe temperaturas escaldantes, a nação andina também tem sofrido com uma seca devastadora nos últimos 15 anos, o que ajudou a alimentar o incêndio florestal.

"A seca criou essa massa de vegetação que secou rapidamente e perdeu sua água", disse Cesar Morales, especialista em recursos hídricos da Universidade do Chile. "Então, é muito fácil, com altas temperaturas, que [essa matéria orgânica] pegue fogo."

Morales acrescentou que um fenômeno semelhante está ocorrendo nos Andes argentinos, mas em uma área maior com menor densidade populacional. Na semana passada, o Parque Nacional Nahuel Huapi, na região da Patagônia, na Argentina, pegou fogo e milhares de hectares foram queimados.

À medida que a mudança climática piora, os cientistas dizem que eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes e severos, tornando eventos mortais como os incêndios da semana passada mais comuns.

"Sem El Niño ou aquecimento global, é muito improvável que tivéssemos tido os incêndios florestais mortais da semana passada", disse Cordero.

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