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Era como estar no inferno, diz sobrevivente de incêndio florestal que matou 122 no Chile

Queimadas provocam destruição e já são consideradas uma das três mais mortais do mundo neste século

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Viña Del Mar | Reuters

Milhares de bombeiros e socorristas continuaram os esforços nesta segunda-feira (5) para conter os incêndios florestais que provocaram mortes e destruição pelo quarto dia consecutivo no Chile. Segundo autoridades, ao menos 122 pessoas morreram devido às queimadas, que já são consideradas uma das três mais mortais do mundo neste século.

Casas destruídas por incêndio florestal em Viña del Mar, na região central do Chile
Casas destruídas por incêndio florestal em Viña del Mar, na região central do Chile - Javier Torres - 3.fev.24/AFP

Os incêndios ganharam força na sexta-feira (2) e se espalharam para áreas residenciais nas cidades de Valparaíso e Viña Del Mar, na região central, surpreendendo moradores e consumindo centenas de casas em poucos minutos.

"É como uma zona de guerra, como se uma bomba tivesse explodido", disse Jacqueline Atenas, 63, que na sexta teve de fugir de sua casa em Villa Independencia, na cidade de Viña del Mar. Ela voltou à região nesta segunda carregando uma pequena mochila rosa, a única coisa que conseguiu salvar, e encontrou apenas destroços. "Havia muito vento, muito vento e grandes bolas de fogo que passavam voando."

A poucos metros de distância, Luis Parra contou à agência de notícias Reuters que quase não conseguiu escapar com sua esposa e netos. Quando ele viu as faíscas atingindo sua casa, a energia havia acabado e eles não conseguiram abrir o portão da garagem para escapar de carro. Por sorte, diz, um motorista amigo da família os resgatou.

Mas a irmã de Parra e seu pai, que é cego, morreram no incêndio. Os corpos foram encontrados a um quarteirão da casa em que moravam. "Nunca pensamos que isso pudesse acontecer", disse ele.

Outros moradores de Villa Independencia descreveram ventos fortes e chamas que se alastravam de forma rápida. Ingrid Crespo, 59, afirmou ter visto o incêndio à distância na sexta-feira e depois o observou avançar de morro em morro. "As faíscas saltavam e o vento soprava como se fosse um furacão", disse ela.

Crespo começou a jogar água no telhado quando viu as chamas mais próximas. O esforço, contudo, não impediu que sua casa fosse destruída pelo fogo. Muitos de seus vizinhos foram mortos, ela conta, assim como seu gato e seu cachorro. "Quando meu filho chegou no domingo, havia cadáveres", disse. "Há muitos mortos."

O Chile começou um período de luto oficial de dois dias nesta segunda. Centenas de pessoas ainda estão desaparecidas e cerca de 14 mil casas foram danificadas ou destruídas, segundo as autoridades.

Imagens de drones feitas pela agência de notícias Reuters na área de Viña del Mar mostram bairros inteiros queimados, com moradores remexendo os destroços de casas cujos telhados de ferro desabaram. Nas ruas, carros destruídos estavam espalhados pelas estradas.

Na noite de domingo (4), o vice-ministro do Interior, Manuel Monsalve, disse que havia 165 incêndios ativos, número maior do que os 154 registrados no sábado. Um toque de recolher foi imposto nas regiões mais atingidas, e militares foram mobilizados para ajudar os bombeiros a conter os focos de incêndio.

Segundo relatório da Corporação Nacional Florestal (Conaf), os incêndios eram registrados em 290,3 quilômetros quadrados na manhã desta segunda, o que equivale a 19% da área do município de São Paulo. A região (equivalente a estado) de Valparaíso era a mais atingida, com 35,1% dos focos ativos.

Monsalve disse que temperaturas um pouco mais baixas e a cobertura de nuvens podem ajudar as autoridades a apagar os incêndios nos próximos dias. "Vamos continuar a ter temperaturas altas, mas não extremas", disse ele.

Já a polícia investigativa do Chile disse que analisa as áreas onde os incêndios podem ter sido causados de forma intencional.

O Chile, a Argentina e outras partes do cone sul da América do Sul estão enfrentando uma forte onda de calor, algo que, segundo especialistas, se tornará mais comum durante os meses de verão do hemisfério sul devido à crise climática. O clima extremo em território chileno também foi exacerbado pelo fenômeno climático El Niño, que aquece o oceano Pacífico.

Jesica Barrios, que perdeu sua casa em Viña del Mar, disse à Reuters que o fogo havia chegado "de um momento para o outro". "O fogo chegou ao parque botânico e, em dez minutos, já estava sobre nós", disse ela. "Havia fumaça, o céu ficou preto, tudo estava escuro. O vento parecia um furacão. Era como estar no inferno."

Os incêndios no Chile estão entre os mais mortais do século 21, comparáveis aos que ocorreram na Austrália em 2009 (179 mortes) e dos que provocaram devastação no Havai em agosto de 2023 (mais de 110 mortes).

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