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Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Em meio à COP26, coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima pede demissão

Diálogo transparente não aconteceu, afirma Oswaldo Lucon; ministério não comenta

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Brasília

O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo nesta terça-feira (2). A informação foi confirmada à Folha pelo coordenador.

O pedido de exoneração ocorre em meio à realização da COP26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow, no Reino Unido. Lucon participa do evento.

Oswaldo dos Santos Lucon, ex-coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima - Divulgação

Ele mandou uma mensagem no grupo de WhatsApp dos integrantes do colegiado informando que o fórum "não tem mais este coordenador-executivo", depois de "909 dias" de atuação. A mensagem foi enviada nesta terça, de Glasgow.

"Eu pedi [exoneração do cargo]. Não tive nenhuma resposta ainda. Enviei um email ao ministro [do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite], para que ele transmita a informação ao presidente da República, a quem, por decreto, eu me reporto", afirmou Lucon à reportagem.

A Folha fez contato com a assessoria de imprensa do Ministério do Meio Ambiente, que não confirmou a exoneração nem deu informações sobre o pedido feito.

"O meu intuito ao assumir o fórum foi colocar o governo federal em contato com a sociedade civil, promover o diálogo de uma forma transparente, baseada na ciência e em reforço às nossas instituições. Não foi o que aconteceu. Então eu acho que outra pessoa pode eventualmente fazer esse serviço melhor do que eu", disse o coordenador.

Lucon não quis dar detalhes sobre os obstáculos existentes no funcionamento do fórum, que reúne representantes do governo federal e da sociedade civil.

"Estou na COP como observador da ONU, não de nenhum governo, e aqui vou participar de encontros do IPCC, do Painel do Clima, que tem esse aspecto de neutralidade. Por esse motivo, vou me abster nesse momento", afirmou.

Lucon foi nomeado coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima pelo presidente Jair Bolsonaro. O decreto da nomeação foi assinado por Bolsonaro e pelo então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em 9 de maio de 2019. O coordenador substituiu Alfredo Syrkis.

A função do fórum é subsidiar ações do presidente e fazer a ponte entre o governo e a sociedade. Por lei, o colegiado é um dos "instrumentos institucionais" para a Política Nacional de Mudança do Clima.

Na proposta de atualização dessa política, em discussão no governo Bolsonaro, o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima segue como uma "instância consultiva" para a Política Nacional de Mudança do Clima.

Segundo integrantes do fórum, esse foi um espaço para a definição de metas que o governo Lula levou a Conferências das Nações Unidas para Mudanças Climáticas.

No governo Temer, o fórum construiu proposta de implantação do compromisso brasileiro de redução de gases de efeito estufa, o chamado NDC. A proposta incluiu cenários de neutralidade de emissões nas décadas seguintes.

No governo Bolsonaro, o fórum perdeu relevância. Não houve convocações dos integrantes plenos; perdeu-se a transparência de documentos; a atuação limitou-se a discussões no WhatsApp, segundo especialistas a par do funcionamento do fórum.

Durante a COP26, o ministro do Meio Ambiente anunciou uma nova meta climática brasileira de reduzir em 50% a emissão de gases poluentes até 2030 e neutralizar a emissão de carbono até 2050.

Anteriormente, o país tinha a meta de reduzir, até 2030, 43% das emissões nacionais.

Porém, o anúncio foi lacônico ao não apontar qual a base para o corte. Caso a redução siga a mesma base da atualização anterior (de dezembro de 2020), o país ainda emitiria mais gases do que o apontado na meta feita em 2015, no Acordo de Paris. Caso o país siga a base mais atualizada disponível (o quarto inventário nacional de emissões), a redução de emissões ficaria igual à prometida em 2015.

Ou seja, em qualquer dos cenários, o Brasil não aumenta sua ambição climática na nova NDC (sigla em inglês para contribuição nacionalmente determinada) apresentada perante o mundo. Metas mais ambiciosas eram esperadas das nações signatárias do Acordo de Paris.

Colaborou Ana Carolina Amaral, de Glasgow

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