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Monteiro Lobato reagiu com poesia ao ter invenção negada

Autor de 'Sítio do Picapau Amarelo' conquistou patente apenas no campo da siderurgia

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São Paulo

Tia Nastácia, personagem de "O Sítio do Picapau Amarelo", era mestre na cozinha. É possível que gostasse de ter sua rotina culinária simplificada com uma máquina de fazer farinha para, assim, produzir com mais praticidade pães caseiros e quitutes. Monteiro Lobato, autor da obra literária que marcou gerações, tentou criar o apetrecho, mas sua ideia foi rejeitada por falta de novidade.

A revelação veio à tona em dezembro do ano passado pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), autarquia do governo federal.

Esta e a reportagem sobre mulheres inventoras (que você pode ver aqui) são as últimas da série Invenções do Brasil, que revelou o processo de digitalização de 3.200 patentes históricas inéditas, realizado pelo Inpi, e que trouxe à luz registros no país de nomes como Henry Ford, Nikola Tesla e Vital Brazil.

A servidora Flávia Romano Villa Verde, chefe da Divisão de Documentação Patentária do Inpi, observa carta de Monteiro Lobato, em resposta à negativa de uma patente para máquina de fazer farinha - Marcelo Chimento/INPI

Inconformado com a negativa, o criador de Emília, Cuca e Visconde de Sabugosa, usou direito de resposta. Com seu talento de escrita, elaborou uma carta ao Departamento Nacional da Propriedade Industrial, em tom poético, para tentar justificar a novidade de seu achado.

O autor usou em sua argumentação períodos como "enquanto verde póde a banana ser facilmente dessecada ao forno, para, em seguida, pela moagem ou pilagem, passar ao estado de farinha", "banana verde está para banana madura, assim como a crysalida está para a borboleta" ou "ninguem suporta comer uma banana verde".

Mesmo com tantas palavras elaboradas e um texto feito para comover os avaliadores, a patente de Lobato, solicitada em 17 de julho de 1931, foi definitivamente rejeitada pelo órgão que analisava os pedidos à época, precursor ao Inpi.

Mas essa não foi sua única tentativa de registrar um invento. Monteiro Lobato conquistou, na área da siderurgia, a patente 22.591, "um dispositivo de forno para reduzir minério por meio dos gazes da combustão incompleta (CO)", em 22 de março de 1935.

"Os documentos relativos aos inventos de Lobato foram recuperados a partir de sua preservação em formato de microfilmes e mediante informações obtidas nas edições digitalizadas do Diário Oficial da União", afirma a servidora Flávia Romano Villa Verde, chefe da Divisão de Documentação Patentária do Inpi.

Exposição com itens originais de Monteiro Lobato, como roupas, aquarelas, quadros e até um pedaço de sua costela, na biblioteca Monteiro Lobato, na região central de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Monteiro Lobato também era conhecido por suas posições nacionalistas e por suas ideias progressistas, incluindo o uso da biomassa de banana verde, citada no invento da máquina de fazer farinha.

Ele também foi um pioneiro na modernização da indústria do livro no Brasil, redesenhando capas e promovendo a literatura infantil.

O escritor tinha projetos relacionados ao desenvolvimento do país, como a prospecção de petróleo, que são atualmente considerados importantes, segundo o biógrafo Vladimir Sacchetta, coautor do livro "Monteiro Lobato, Furacão na Botocúndia".

"Ele entrou em conflito com empresas multinacionais, como a United States Steel, que tinha interesse no ferro brasileiro e na produção de aço. Lobato enfrentou petroleiras multinacionais em sua luta pela prospecção de petróleo no Brasil, refletindo seu forte nacionalismo em oposição ao capital estrangeiro."

O escritor Monteiro Lobato (1882-1948) às vésperas de sua partida para os Estados Unidos, em 1927 - Divulgação

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