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Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Momo exilado

Um bom Carnaval para quem não gosta de Carnaval

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Machado de Assis estava longe de ter uma alma carnavalesca. De saúde frágil, gago e epilético, era tímido e discreto, quase dom casmurro. Funcionário público, ele saía do trabalho e pegava o bonde direto para a casa. Lá o esperava Carolina, sua mulher portuguesa.

Em raro instantâneo, o escritor aparece sentado à mesa de calçada da confeitaria Castellões, na antiga rua de S. Pedro, desaparecida com a construção da avenida Presidente Vargas, no que, segundo a revista Fon Fon! de maio de 1907, era "a hora do aperitivo dos intelectuais". De chapéu, Machado está ao lado dos acadêmicos José Veríssimo e Euclides da Cunha e do crítico Walfrido Ribeiro. O que conversavam? Certamente não discutiam o último desfile dos Tenentes do Diabo.

Não há notícia de que o autor de "Quincas Borba" frequentasse cervejarias. Só deve ter entrado numa delas uma vez na vida, para apontar um retrato do poeta Emílio de Menezes --grandes bigodes retorcidos, cabelos revoltos na testa, cara vermelha e bochechuda, exibindo uma enorme caneca espumante-- e assim destruir a candidatura do famoso bebum à Academia Brasileira de Letras.

Mesmo com tal comportamento, Machado era carioca e entendia e gostava da sua gente. Não surpreende que tenha escrito, em 1894, uma crônica cuja atualidade as redes sociais têm destacado: "Quando eu li que este ano não pode haver Carnaval na rua, fiquei mortalmente triste. É crença minha, que no dia em que deus Momo for de todo exilado deste mundo, o mundo acaba". Na época não havia nenhuma peste, e sim a Revolta da Armada, ameaçando bombardear a cidade.

É o que sentem sem tirar nem pôr meus amigos foliões: o mundo, sem os Escravos da Mauá, o Bola Preta e o Boitatá, acabou para eles. Em compensação, há os que detestam a alegria e o riso e estão felizes com o cancelamento da festa. A estes eu desejo um bom Carnaval.

Confeitaria Castellões, maio de 1907: Machado de Assis, de chapéu e barbas brancas, com José Veríssimo, Euclides da Cunha e Walfrido Ribeiro - Reprodução

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