Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)
Afroconveniente ou afroindecente?
Eleição com o maior número de candidaturas negras é a 1ª em que partidos foram obrigados a destinar verba proporcional
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O maestro Tom Jobim tinha razão ao afirmar que o Brasil não é um país para principiantes. Não por acaso, a eleição com o maior número de candidaturas de pretos e pardos segundo os registros do TSE (o percentual de candidatos autodeclarados negros superou o de brancos) é também a primeira em que os partidos foram obrigados a destinar verba de campanha proporcionalmente às candidaturas negras.
O que à primeira vista pode parecer motivo para comemoração, uma evolução rumo à construção de uma democracia racial, na prática tem se mostrado reflexo de uma sociedade racista a ponto de fraudar uma política pública voltada à população negra.
Em tempos de pós-verdade, em que um número considerável de pessoas tende a construir uma realidade própria e alheia aos fatos, o que não falta é político camaleão concorrendo a senador, governador e aos parlamentos. Da eleição geral de 2018 para cá, são tantos os candidatos que mudaram de cor para não correr o risco demudar o status quo —"deixaram de ser brancos"— que fica difícil não ver nisso uma atitude afroconveniente. Ou, como classifica o professor Hélio Santos, "afroindecente".
Para quem não sabe do que se trata, é a evocação de uma pretensa ascendência africana com a intenção de tirar proveito de uma ação afirmativa que deveria beneficiar a parcela de brasileiros pretos e pardos, historicamente preteridos.
Como bem observou o sociólogo Oracy Nogueira, o preconceito no Brasil é racial de marca, discrimina pela presença de traços e marcas aparentes, fenotípicas, principalmente pela cor da pele. Quem é preto ou pardo não precisa "se sentir", pois a sociedade faz questão de deixar a negritude evidente por meio do desrespeito, do preconceito, da desconfiança, da discriminação, do ódio gratuito, da falta de oportunidades, da crueldade.
Sobretudo quem é negro sabe que nunca poderá "se dar ao luxo" demudar de cor para "sentir-se branco".
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