Siga a folha

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

Afroconveniente ou afroindecente?

Eleição com o maior número de candidaturas negras é a 1ª em que partidos foram obrigados a destinar verba proporcional

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

O maestro Tom Jobim tinha razão ao afirmar que o Brasil não é um país para principiantes. Não por acaso, a eleição com o maior número de candidaturas de pretos e pardos segundo os registros do TSE (o percentual de candidatos autodeclarados negros superou o de brancos) é também a primeira em que os partidos foram obrigados a destinar verba de campanha proporcionalmente às candidaturas negras.

O que à primeira vista pode parecer motivo para comemoração, uma evolução rumo à construção de uma democracia racial, na prática tem se mostrado reflexo de uma sociedade racista a ponto de fraudar uma política pública voltada à população negra.

Urna eletrônica na cerimônia de lacração e carregamento pelo TSE - Rivaldo Gomes/Folhapress

Em tempos de pós-verdade, em que um número considerável de pessoas tende a construir uma realidade própria e alheia aos fatos, o que não falta é político camaleão concorrendo a senador, governador e aos parlamentos. Da eleição geral de 2018 para cá, são tantos os candidatos que mudaram de cor para não correr o risco demudar o status quo —"deixaram de ser brancos"— que fica difícil não ver nisso uma atitude afroconveniente. Ou, como classifica o professor Hélio Santos, "afroindecente".

Para quem não sabe do que se trata, é a evocação de uma pretensa ascendência africana com a intenção de tirar proveito de uma ação afirmativa que deveria beneficiar a parcela de brasileiros pretos e pardos, historicamente preteridos.

Como bem observou o sociólogo Oracy Nogueira, o preconceito no Brasil é racial de marca, discrimina pela presença de traços e marcas aparentes, fenotípicas, principalmente pela cor da pele. Quem é preto ou pardo não precisa "se sentir", pois a sociedade faz questão de deixar a negritude evidente por meio do desrespeito, do preconceito, da desconfiança, da discriminação, do ódio gratuito, da falta de oportunidades, da crueldade.

Sobretudo quem é negro sabe que nunca poderá "se dar ao luxo" demudar de cor para "sentir-se branco".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas