Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Cotas eleitorais sim, mas só isso não basta

Gênero e raça não são garantias de representatividade de uma coletividade

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Era de se esperar que as mudanças nas regras de distribuição do fundo eleitoral e do fundo partidário, além das crescentes articulações dos movimentos sociais negros pela ocupação de espaços de poder, resultassem numa ampliação da participação de mulheres e de pretos e pardos entre os candidatos ao pleito de 2022.

A questão agora é saber quantas dessas pessoas estão realmente dispostas e aptas a trabalhar por pautas de interesse das mulheres e da negritude e quantas estão simplesmente cumprindo tabela, ou melhor, preenchendo cota.

Com uma maioria no país autodeclarada negra (56%) e feminina (51,1%, pelo IBGE), o desejável seria que a representação partidária e eleitoral desses grupos fosse mais proporcional ao contingente populacional. Mais mulheres e mais negros entre os candidatos —oxalá também entre os eleitos— claro que é importante e necessário para o fortalecimento da democracia. Mas, por si, não é o bastante.

Gênero e raça não são garantias de representatividade e alinhamento com as necessidades e demandas de uma coletividade. Sobretudo sem a implementação de políticas públicas que defendam os interesses de grupos que, apesar de majoritários, estão também entre os mais vulneráveis.

Integrantes do mandato coletivo Quilombo Periférico da Câmara de Vereadores de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Trocando em miúdos, com certeza cotas representam um avanço, mas de nada adiantam sem o suporte partidário necessário para viabilizar eleitoralmente essas candidaturas. Também pouco importam se, caso eleitas, essas pessoas não estiverem dispostas e aptas a tocar projetos políticos que promovam direitos e ações afirmativas, protejam religiões de matriz africana e terras quilombolas, combatam o morticínio negro...

Passados 200 anos da Independência, o Brasil precisa de parlamentares e governantes dispostos a trabalhar pela redução das crescentes desigualdades sociais. Só assim será possível colocar um freio na intersecção entre pobreza, raça e marginalização, coisa que se naturalizou de maneira trágica.

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