Siga a folha

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

Voluntarismo alucinado

Acreditamos que nossos problemas serão vencidos pelo cansaço

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

No Brasil, temos o péssimo hábito de tratar os problemas recorrentes com as mesmas soluções equivocadas, talvez acreditando que eles serão vencidos pelo cansaço.

A elevação nos preços dos combustíveis é impopular e invariavelmente se traduz em ameaças de greve e pedidos para que o governo "faça alguma coisa". Corre-se para segurar os preços artificialmente ou subsidiá-los diretamente, o que gera distorções e elevado custo fiscal. Demite-se o presidente da Petrobras, com custo reputacional para o governo e para a empresa. Às vezes, em um ataque de criatividade, tabela-se o frete, para distorcer ainda mais o sistema de preços.

Os preços domésticos dos combustíveis devem acompanhar o preço do petróleo no mercado internacional para que os recursos sejam usados de maneira eficiente. A volatilidade dos preços internos é um problema, mas as soluções possíveis são conhecidas, e a experiência internacional sugere formas de implementá-las com maior ou menor grau de sucesso: reajustes por médias móveis, imposto regulatório, fundo de estabilização de preços etc. Acabam preteridas pela ação populista de curto prazo e ficam adormecidas até a próxima crise, cuja solução final será a mesma.

Há algumas semanas, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras pelas redes sociais. Defendeu preços "pelo menos 15% mais baratos" para os combustíveis e prometeu "meter o dedo na energia". Disse agora que o reajuste no preço do gás é "inadmissível". Perguntou se "o petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo que controla o Brasil", numa triste combinação entre o ápice voluntarista do governo Dilma e um retrógrado pensamento estatizante. Com isso, joga fora tudo o que foi feito no período recente para aumentar a transparência das estatais e deixá-las a cargo de profissionais competentes, além de suscitar dúvidas sobre a direção da política econômica daqui para a frente.

Talvez não tenham lhe explicado que a desvalorização da taxa de câmbio é um dos grandes responsáveis pela elevação dos preços dos combustíveis e dos alimentos e que ela reflete, em larga medida, o risco fiscal da economia brasileira, agenda sem nenhum apoio do Planalto.

O autoritarismo truculento com que Bolsonaro lida com esses problemas eleva a incerteza e o risco país, retrai o espírito animal dos empresários, mexe com os preços fundamentais da economia e destrói valor.

As intervenções do governo Dilma lhe renderam seu máximo instantâneo de popularidade, mas logo cobraram seu preço político e econômico, com inflação, desemprego e a maior recessão da história. Infelizmente, as consequências sempre vêm depois.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas