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Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

O que sabemos sobre a inflação do ano que vem?

Estimativas de inflação são pouco precisas e, em média, subestimam o índice

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Na semana passada, falei sobre as previsões para o PIB. Hoje, falo sobre as previsões para a taxa de inflação.

Para estimar o IPCA do mês, consultorias, instituições financeiras e centros de pesquisa utilizam uma grande quantidade de dados, incluindo preços coletados em supermercados e websites. Assim, essas estimativas contêm muita informação sobre o movimento dos preços que será captado pelos índices.

Estimar a inflação do ano que vem é uma tarefa bem mais complicada. Quanto será a inflação em 2024? Ficará por volta de 3% ou 4%? Será mais alta, perto dos 6%?

Essa estimativa é importante para a política monetária do Banco Central e para as decisões das empresas.

O principal indicador de expectativas de inflação é dado pela Pesquisa Focus, que agrega as previsões de diversas instituições. Quão boas são essas previsões?

Para responder a essa pergunta, Daniel Ribeiro e eu comparamos as estimativas de inflação para o ano seguinte dadas pela Focus, em dezembro, com uma previsão muito simples: a inflação do ano que vem será igual à do ano passado. Esse chute desinformado fornece uma boa base para comparação.

A figura mostra o valor absoluto dos erros de previsão nos dois casos. Por exemplo, se a previsão era de inflação de 4%, o erro será 1 ponto percentual se o IPCA aumentou 5% (inflação foi maior que se esperava) ou 3% (inflação foi inferior às expectativas).

De maneira geral, os erros nas previsões das estimativas de mercado são menores. A diferença, porém, é pequena: no período entre 2001 e 2022, a média dos erros das expectativas de mercado é cerca de 80% da média dos erros dos chutes desinformados.

É instrutivo olhar para os grandes aumentos recentes de inflação, ocorridos em 2015 e 2021.

Nos dois casos, previa-se inflação semelhante à do ano passado e a inflação foi muito maior. As estimativas de mercado não anteciparam o aumento. Contudo, as previsões captaram a queda no índice nos anos seguintes, 2016 e 2022. Algo bem parecido ocorreu em 2002.

Em 2015, o IPCA aumentou em 10,7%, enquanto a Focus indicava uma inflação de 6,5%, exatamente o teto da meta de inflação na época. Uma possibilidade, amparada por conversas informais com economistas de mercado, é que às vezes, na dúvida, pode ser melhor evitar dizer que o Banco Central deixará a inflação acima do teto.

Isso nos traz a outra pergunta: há viés nas estimativas de inflação de mercado?

Diz-se por aí que instituições financeiras têm incentivos para inflar as expectativas de inflação para levar o Banco Central a manter taxas de juros altas. Esse é o tipo de assunto sobre o qual as pessoas gostam de falar por horas e horas e horas, mas que pode ser resolvido em poucos minutos ao olhar os dados.

Em média, as estimativas de mercado subestimam a inflação, o contrário do que se afirma por aí. A média da inflação anual desde 2001 é 6,3%; a média da estimativa de mercado para a inflação no ano seguinte é 5,2%.

Por que essa diferença?

Uma parte da explicação é que essas estimativas devem ser vistas como previsões para um cenário base, sem grandes choques para um lado ou para o outro. Eventos inesperados podem derrubar a inflação um pouco (de 5% para 3%) ou elevá-la muito (de 5% para 10%). Por conta dessa assimetria, erra-se para baixo, em média. Isso, porém, não explica muito. Nos últimos 22 anos, o IPCA superou as previsões em 15 casos.

Em suma, estimativas de inflação para o ano seguinte são pouco precisas e, em média, subestimam o índice.

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