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Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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O crescimento do PIB é em geral subestimado

Os índices de inflação não incorporam tudo o que a teoria econômica prescreveria

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Na semana passada, foi notícia o crescimento do PIB maior que o esperado no segundo trimestre deste ano. Desde 2021, as previsões de crescimento do PIB têm errado para baixo e isso tem chamado a atenção de jornalistas e analistas.

Esta questão é sobre a diferença entre o PIB esperado e o divulgado pelo IBGE. Mas o crescimento do PIB divulgado pelo IBGE é uma medida precisa do crescimento real do PIB?

Talvez, surpreendentemente, o crescimento do PIB divulgado seja provavelmente inferior ao real. E isso não tem nada a ver com manipulação de dados nem com ações de governos para os quais você torce contra ou a favor.

O PIB é medido em reais. Para calcularmos o crescimento real do PIB, precisamos descontar a inflação.

A inflação é provavelmente superestimada pelos índices. Isso faz com que o crescimento do PIB seja subestimado.

Público na Bienal do Livro em São Paulo - Folhapress

Os institutos que medem a inflação coletam preços de uma variedade de bens e serviços e calculam como esses preços evoluem no tempo. Até onde conseguimos avaliar, esse trabalho é muito bem feito.

Entretanto, os índices não captam de maneira satisfatória os impactos de mudanças de qualidade e a introdução de novos produtos.

O seu telefone não existia há 20 anos. Se existisse e custasse 1 milhão de reais, você (provavelmente) não o compraria. Na teoria, a introdução de um novo produto tem o mesmo efeito que essa queda no preço. Na prática, os índices de inflação não consideram isso.

Os telefones de dez anos atrás também eram piores que os de hoje. As fotos eram piores, a memória era menor, alguns aplicativos que utilizamos hoje não funcionariam bem. Se estivesse disponível há dez anos, custaria muito mais (o suficiente para que escolhêssemos comprar o que existia). Essa queda virtual no preço também não é considerada.

Às vezes, as empresas retiram um produto do mercado e lançam outro de pior qualidade (menor, por exemplo). Na teoria, isso deveria ser computado como um aumento da inflação. Na prática, os índices têm dificuldade de captar esses efeitos. Ainda assim, as mudanças de qualidade positivas parecem mais importantes que as mudanças negativas.

Além disso, a medida do PIB é imperfeita por diversos motivos. Um deles é que, na teoria, a compra de um produto deveria entrar no cômputo do PIB mesmo quando você não paga com dinheiro. Na prática, hoje em dia, o preço que você paga para muitos produtos (como aplicativos e websites gratuitos) é o acesso aos seus dados. As economistas Maryam Farboodi e Laura Veldkamp argumentam que esse efeito é relevante.

Não seria simples incorporar essas questões no cômputo da inflação e do PIB. Os índices que temos são bons e úteis, mas não incorporam tudo o que a teoria econômica prescreveria.

Vale frisar que o PIB busca medir a quantidade de bens e serviços produzidos no país. Não tenta medir a qualidade do ar, a sensação de segurança ao andar nas ruas nem os prazeres e desprazeres da nossa vida moderninha. Não é, portanto, uma medida de bem-estar, mas é, ainda assim, um indicador muito importante.

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