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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Presentear é uma arte, uma ciência, uma diversão e também um perigo

Alerto os mais incautos que com as pequenas lembrancinhas vêm as grandes responsabilidades

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O Dia das Mães vem chegando e, com ele, a correria desenfreada pelas compras de último minuto —agora, sobretudo online. Aproveito, então, esta semana de antecedência para alertar os filhos
mais incautos: com as pequenas lembrancinhas vêm as grandes responsabilidades.

Para começo de conversa, presentear é uma ciência inexata. Estatisticamente falando, a chance de você comprar um negocinho simples e agradar alguém de primeira tende a zero, pois a lógica aplicada ao que provoca felicidade no outro é imponderável.

Vide o caso de uma conhecida minha. Pedida em casamento, ela literalmente chorou de emoção ao ganhar, não uma aliança, mas uma air fryer. E fazendo uso de um argumento perfeitamente razoável. “Pra que diamantes, se posso ter churros? Já experimentou fazer por lá? Ficam perfeitos!”

Contrariando tradições e probabilidades, um colega de trabalho me confidenciou: simplesmente adora receber meias de Natal. “E cuecas! Se forem combinandinho, melhor ainda.” É por essas e por outras que, sabendo a importância que dou a chamegos materiais, ninguém mais gasta tempo e dinheiro me comprando coisas realmente úteis.

Isso, é claro, quando o presente é “comprado”. Afinal, tem muita gente cuja generosidade coincide com a vontade de se livrar dos próprios badulaques —e contando comigo para essa desova.

As justificativas, aliás, costumam ser tão inusitadas quanto as oferendas. “Ia jogar no lixo, mas resolvi te dar” ou “era da minha avó, ela usava em rituais satânicos no Antigo Egito: achei sua cara”. E sabe o que é pior? Sempre acabo amando tudo.

Portanto, sigo com meus recebidinhos, sem medo de parar no programa Acumuladores Compulsivos.

No top de favoritos, uma marionete do Kafka, um rádio da Luluzinha, uma cabeça de manequim, a saboneteira do motel de “Psicose” e, mais recentemente, um colchão espacial. Quanto aos mais bizarros, destaco um quadro de palhaço que chora, uma Nossa Senhora que pisca e um boneco do Fofão (completo, com faca e lenda urbana dentro). Todos ocupando, com louvor, meu panteão de tranqueiras.

A lembrança mais preciosa e simbólica, no entanto, ganhei do meu filho: um ninho de passarinho, caído de uma árvore, que ele trouxe com todo cuidado, em suas mãozinhas tão pequenas. O tipo de presente que fica para o futuro. Pra que diamantes? Domingo tem mais.

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