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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Descrição de chapéu
Natal

Às vezes os fatos são tão absurdos e inacreditáveis que só podem ser verdade

Numa quase véspera de Ano-Novo, cismei de visitar uma praia que era descanso de tela do Windows

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Este relato deveria começar de forma épica ou minimamente séria, posto que é verídico e trata de uma experiência de quase morte. No entanto, jamais terei outra chance de parafrasear Jaca Paladium, o cãozinho cascateiro da "TV Colosso", ao recordar tão louca história de fim de ano. "Aconteceu... na Nova Zelândia."

Eu estava passando um mês na terra do bungee jump e dos kiwis, cenário quase sem computação gráfica de "O Senhor dos Anéis", encantada com aquele IDH altíssimo e a densidade populacional de
12 ovelhas para cada cidadão.

Só que no último dia, quase véspera de Ano-Novo, cismei de visitar uma praia que era descanso de tela do Windows, mas a vários quilômetros do último avistamento de seres humanos. Se perdesse o voo de volta, já era. Imagina, então, se perdesse a vida. O problema é que em viagem baixa um caboclo da National Geographic na gente.

Murray, um geólogo ao volante, ia ensinando sobre as formações rochosas do caminho. Num pit stop para água e WC, me fez segurar uma pedra vulcânica. Ela soltava um pó —que cheirei. Depois, colheu uma pohutukawa —flor local que também cheirei. E, na descida até a praia, me ofereceu um bolo com especiarias misteriosas —que comi, tendo cheirado antes.

Conclusão: deu-se o mais brutal dos meus ataques de asma.

O tal filme da vida passou diante dos meus olhos. Me despedi de todos que amava, em pensamento. Antes do apagão fui socorrida por seis bombeiros neozelandeses, ombrudos feito jogadores de rúgbi, que me enfiaram numa ambulância pilotada por uma mulher vestida de Mamãe Noel. A maqueira, atrás, no mesmo figurino. Ambas simpaticíssimas, puxando assunto enquanto meus sinais vitais oscilavam.

Quando a ambulância chegou ao que parecia um hospital, mas que de tão lindo poderia ser um resort, um médico de bermudas, recém-saído do golfe, me atendeu. "Vamos, mocinha, uma tacada me espera." Ué, ali não era a emergência? Quantos pacientes havia na fila? "Hoje? Só você. Plantão frenético!"

Plena, fui levada de volta ao hotel pelo geólogo, imerso em culpa por ter alinhado os três itens da quase tragédia —pedra, flor e bolo. Tratei de apaziguá-lo, oferecendo o spoiler do final de "O Clone", novela que estava fazendo sucesso por lá.

Seis meses depois, um susto. Recebi email do governo neozelandês. Achei que fosse algum boleto a pagar, mas não: era o formulário para um programa de imigração, garantindo ainda mais saúde gratuita.

"Kia Ora! Venha, nós cuidaremos de você." Faltou-me o ar, novamente. Ah, Nova Zelândia, que país incrível. Separe minhas 12 ovelhas que um dia eu vou. Acredite... se quiser.

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