Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.
Como o gosto por true crimes me levou ao caso do bebê bandido de 'Vamp'
Ator que viveu filho da protagonista de Claudia Ohana cresceu e praticou crimes na vida real em comunidade carioca
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Os fatos a seguir são verídicos, mas os nomes foram alterados porque, bem, a vida real nem sempre pode ser igual a um true crime, desses que a gente vê no streaming.
Foi graças à minha paixão pelo gênero que "O Caso do Bebê de Vamp" caiu em minhas mãos. Obra e graça de Dona Eloá, minha maior informante de séries e manicure.
Em meio a esmaltes vermelho-sangue e alicates pontiagudos, eu e a idosa senhora conversávamos no Projac sobre esse nicho televisivo que costuma eletrizar pessoas com existências perfeitamente banais e entediantes, feito a minha.
"Tiger King" e "Making a Murderer" encabeçavam nossa lista de favoritos. Até o dia em que Dona Eloá me falou de Renato, o filho criminoso da vampira roqueira Natasha.
Antes, porém, uma linha do tempo, pois é assim que se faz num true crime.
Rio de Janeiro, 1992. Na reta final da novela "Vamp", um bebê louro de olhos azuis é escalado para interpretar o rebento da imortal protagonista de Claudia Ohana. Nascido numa comunidade da zona sul, Renato passa então a ostentar o apelido de "Bebê de Vamp", crescendo e vindo a praticar delitos que assustam a região.
Rio de Janeiro, 2022. Por entre emanações de acetona, Dona Eloá me dá o serviço completo. De certa forma eu já conhecia a comunidade, locação e palco de uma das criminosas mais amadas da facção noveleira: Bibi Perigosa (Juliana Paes). Contudo, fato ou fake: seria aquele Renato o mesmo bebezinho de "Vamp"?
Cruzei as pistas a meu alcance. Basicamente, um recorte da revista Contigo e uma reportagem do jornal Meia Hora. Eureka. Renato era, sim, o neném meliante.
Agora, preciso introduzir a personagem mais triste do caso. Amélie, adotada por um casal da Suíça. Suécia. Grécia. No calor da emoção, Dona Eloá sempre reconta de jeitos diferentes. De volta à comunidade, ela se envolve com Renato —condenado e com tornozeleira eletrônica. Vítima de relação abusiva, Amélie confidencia a uma amiga que irá abandoná-lo assim que a Justiça remover o aparato. Ouvindo por trás da porta, o amante lhe dá cinco tiros e foge.
Nessa parte da história, desaparecem os clichês e a dor real se impõe diante de mais uma tentativa de feminicídio. Após semanas entre a vida e a morte, Amélie vai embora de vez do país. Para o Caribe. Catar. Canadá. De novo no calor da emoção, Dona Eloá e eu vibramos por ela. Renato, ao que parece, estaria preso —única informação que temo investigar. O Brasil é pródigo em finais infelizes.
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