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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Ser fã de terror é encarar coisas mais estranhas na política e na fazendinha

Tenho mais nervoso de bichos como patos e marrecos do que de Demogorgons e Vecnas

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Juro pela menininha que foi sugada pelo Poltergeist para dentro da TV. Pelos pesadelos terríveis com Freddy Krueger ocupando a outra metade do travesseiro. Pela perna dos adolescentes que Jason puxou para o fundo do lago numa sexta-feira 13. Pelo...

"Que é isso, mãe? Todo mundo sabe que você tem medo é de pato."

Não, peraí. Terror é coisa séria. Principalmente quando se vive no Brasil, por entre tantas ameaças tenebrosas. O fim do Estado de Direito, uma possível reeleição presidencial em outubro e outras invocações do mal.

No entanto, desde que meu filho voltou das férias escolares enlouquecido pelo gênero e viciado em "Stranger Things", passei a ser humilhada por um guri que até pouco tempo atrás cantava a música da fazendinha. Fazer o quê? É verdade, não posso negar. Tenho mais nervoso de bichos como patos e marrecos, incluindo aí os de Maringá, do que de Demogorgons, Vecnas e Devoradores de Mentes.

O que me salva é não estar sozinha nesse ridículo. Outro dia, desviando tensa de dois cisnes que vinham em minha direção enquanto tomava sol no parque, uma senhora soturna se aproximou para segurar minha mão. "Eles estão aqui", disse. "Vambora, minha filha." E imediatamente iniciou-se uma debandada: a gente e mais uns sete adultos, escapando agora de um ganso.

Ao decidir expor minha patologia, descobri temores da mesma natureza, inclusive entre os amigos mais safos e trogloditas. "Não posso ver galinha, ô bicho do olho separado." "O maior pavor da minha vida é levar corrida de vaca." "Me chama para rever ‘O Exorcista’, mas me afasta do porquinho Babe." Ou seja: somos habitantes de uma dimensão paralela, uma espécie de Mundo Bita invertido.

Peixes também não me falam ao coração. Desarmada e indefesa, fui atacada por eles em duas ocasiões. No jardim da firma, quando uma carpa resolveu dar seu duplo twist em cima de mim, que estava sentada quieta na beira do espelho d’água. E fazendo compras de madrugada num supermercado deserto, quando um 
atum enorme e totalmente falecido escorregou de sua montanha de gelo direto no meu pé.

Urbanos demais? Medrosos demais? Que eu saiba, Alfred Hitchcock não fez "Os Pássaros" à toa. "Já pensou? Aquilo ali numa versão brasileira com pombo???" Bichos de qualquer espécie podem ser horripilantes, sim. Tanto que uma das cenas mais apavorantes que já arrombaram nossas retinas foi a de um homem no poder, mostrando uma caixa de cloroquina a uma ema. "Pânico" perde —e de longe.

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