Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.
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Uma figurinha de "bom dia, grupo" visualizada no meio da tarde. O convite irrecusável para um churrasco, 15 dias depois. E a mensagem de "Estamos grávidos!" ganhando dois tracinhos azuis quando a criança já está cursando engenharia. É... Desconfio que eu não seja muito boa de timing em grupos de WhatsApp.
Quando é papo reto, com uma pessoinha só, está garantida a minha eficiência. Jamais me furtarei ao convívio de amigáveis kkks alheios. Sou sempre lépida e fagueira em dar coraçõezinhos para memes de ocasião.
O problema é ser enfiada num ajuntamento internético sem a preparação socioemocional necessária. Algo que, a depender do caso, pode se dar apenas no Dia de São Nunca.
Recentemente, me vi catapultada sem consentimento ou convite prévio para um recinto virtual com os mais aleatórios colegas de escola. Não sei vocês, mas meu proceder zápico segue a seguinte filosofia: se não mantenho contato com alguém do passado analógico, é pouco provável que queira dividir uma mesa de bar digital com um semiconhecido.
Então dei o truque e fingi que não era eu, mas uma golpista do Pix que havia usurpado meu próprio número de telefone.
Sempre que o assunto é escrevinhação e falação por mensagem eletrônica envolvendo três ou mais criaturas, considero-me ferrenha grouchomarxista: nunca faria parte de um grupo que me aceitasse como membro.
Portanto, mantenho-me naqueles em que sou incompreendida, maltratada e achincalhada com todo o carinho. Recebendo palavras de impaciência, afeto e emojis com dedinhos apontados para a minha pessoa, "já que ela nem vai ler isso aqui...".
Em face de tudo que escrevi acima, o que mais me impressiona foi ter descoberto —com atraso bastante sintomático de pelo menos uma década— que a maioria das pessoas mantém grupos de WhatsApp com um único membro: elas mesmas. Em geral batizado de "Eu", "Eu Mesmo", "Falando Sozinho" e demais variações solitárias, ainda que bem criativas.
Por que raios alguém se frequentaria digitalmente a sós? "Ah, é que eu gosto de botar minhas coisas todas juntas". "Organizo melhor as fotos que vou postar". "Preciso ter à mão minhas notas fiscais!". Tá, mas é justamente para isso que serve o bloco de notas do celular. "Não importa, me deixa: eu gosto de estar sozinho em grupo".
Pronto. Enfim a resposta sincera que ganha estrelinha de favorita. Nada mais humano do que nos sabermos assim. Uma multidão de eus sozinhos, mas sempre em busca de outros —que podem e até por vezes devem ser nós mesmos.
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