Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune
Descrição de chapéu WhatsApp

Quando sou Boa, sou pior ainda

Se seu autocorretor também muda Kilimanjaro para Kyllie Jenner, o pior virá

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15 minutos. Esse é o tempo que tenho para me recompor. Parece suficiente, mas não quando se está digitando em pânico. Cheia de dedos. Ajeitando consoantes trocadas, remendando verbos dúbios. Tudo certo agora? Até parece. A humilhação, ah. Ela sempre chega. "Kkkkk, EU LI!!!".

Quando o Whatsapp disponibilizou a função de "editar" mensagens, achei que enfim me livraria dos erros que constituem minha ruína social. Um festival de duplos sentidos involuntários, como se meu autocorretor tivesse um senso de humor próprio e fizesse hora-extra trabalhando no programa "A Praça é a Nossa".

Na ilustração de Marcelo Martinez, a personagem "Velha Surda", do clássico programa de humor "A Praça é Nossa", faz sua careta característica. No fundo da imagem, erros de digitação bem-humorados, como "Deus te elimine, digo, te ilumine!
Ilustração de Marcelo Martinez - Folhapress

Cheguei a pensar que o ponto mais alto do meu constrangimento foi o Monte Kilimanjaro transformado em Kyllie Jenner. Ou perguntar como ia Tio Décio, o "pau" doente de um grande amigo. Porém, em se tratando de digitações equivocadas, a única certeza é a de que o pior sempre virá.

Quem cata milho no celular, resolvendo trocentas outras coisas, está mais suscetível a mandar um recado para o gerente do financeiro dizendo que pegou não o laudo, mas o Lauro da contabilidade. Ou a reclamar que não aguenta mais encarar "esse seu bafo insuportável no horário de almoço". Não, peraí, era "banco". Juro. A gente estava falando mal do Itaú.

Se eu cometi as gafes acima? Por quem me tomas? Já fiz muito pior. Para um chefe, ao invés de "boralá, na moral" escapou "bora lá, namorar". E por pouco o caso não parou no compliance. Em outra mensagem de suma importância, sem querer escrevi "céu" sem o "e" e fiquei com o resto da palavra na mão.

Em geral, minhas confusões léxicas são perdoadas após sinceros pedidos de desculpa. Engavetadas pelos tais "kkkks" humilhantes, mas generosos, seguidos de "EU LI!". Contudo, uma delas carrego até hoje como meu maior pecado capital.

Tentando ser fofa e humilde, todavia levemente ateia, ao invés de "nunca foi sorte, sempre foi Deus" saiu "sempre fodeu" num grupo cheio de cristãos. Silêncio sepulcral, seguido pela certeza de que eu estava sendo mandada para o inferno com todas as letras.

Aqui na Folha, depois que aperto o botão de enviar, tenho boas almas que me revisam o texto. De tantos "vale este" que anexo por email, corrigindo minúcias, esses anjos já ganharam pontos no céu, com "e" no lugar certinho. Foi Deus, colegas.

O que vale é saber que também me erram. Em vez de Bia, vira e mexe sou "Boa". Elogio que só aceito como equívoco, pois tenho baixa autoestima. Mas tudo bem: quando sou Boa, sou pior ainda. Parafraseando a grande Mãe West.

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