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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Usar calcinha bege é o primeiro passo para a revolução de se amar

Este é um espaço seguro o bastante para que, depois do almoço, possamos afrouxar o cinto e sentar com dobras na barriga

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Apesar de todos os baques, reveses e preocupações. A despeito da idade, do colágeno em fuga e do "skincare" de quinta categoria. "Fez preenchimento?" Não. "Botou fio de ouro?" Não. "Peeling de fenol?" Alô, polícia. Não. "Então o que tem aí nessa sua testa que não enruga?"

Ilustração de Marcelo Martinez - Folhapress

Pois a dita cuja veio assim: lisa de fábrica. O resto eu chamaria de "seminovo", vulgo "pós-jovem", quiçá "pré-velho". Aceitaria reparos, mas finjo que não é comigo.

Ainda existem muitos de nós por aí, desarmonizados por natureza. Barrocos antes dessa modinha entre ricos e famosos, que vêm dando "Ctrl Z" em procedimentos que esculhambavam o que já estava bom.

Se você é contra pescoço que empapuça ou gargalhada que revela três palmos de gengiva, talvez seja melhor pular daqui para o sudoku. Este é um espaço seguro e confortável o bastante para que, depois do almoço, possamos afrouxar o cinto e sentar fazendo dobras na barriga.

Nossa bandeira é a calcinha bege, esse esplendor da sedução cotidiana. Tudo o que uma diminuta lingerie vermelha revela, declarando rendas e cetins na engenharia civil de bojos que não passam de armação, a maciez sonsa e prosaica do algodão das calçolas tem a esconder de forma muito mais intrigante.

Terna carícia em virilhas que —"oh, não acredito!"— suam. Além de apoio moral a seios sinceros que mantêm seu posicionamento político natural, olhando para a frente. Visando ao futuro.

Desarmonizados, promovemos a mais sutil das revoluções. Transformando bundas-tanque-de-guerra —sempre tão rígidas e implacáveis— em glúteos lúdicos e aptos com um doce balanço a caminho do mar.

A "seducência" ordinária de nossa "dirty talk" mantendo viva a luxúria vocabular, sussurrando no ouvidinho alheio saliências como "vem, gostoso, vem lanchar que eu trouxe pão quentinho" ou "sabe o que eu quero fazer contigo, safada? Brigadeiro de panela!".

Quantos emojis de foguinho merece o pijamão do nosso sábado à noite de boas, zapeando no sofá? Quantos coraçõezinhos diante da belezura que somos de alma e corpo lavados, nos olhando no espelho sem nenhum boleto vencido, nenhuma conversa pendente?

No vidro embaçado do "box", um recado lascivo e cafona, bem ao gosto dos emocionados radicais que se desarmonizam por completo: "Eu me amo". Isso e a calcinha-símbolo da nossa maçonaria pendurada, triunfal, na torneira.

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