O macho na seção de lingerie

O homem capaz de comprar na seção de lingerie nunca saiu de extinção.

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Stefano Volp

Roteirista, tradutor, escritor e jornalista, é fundador da editora Escureceu e autor, entre outros, de "Homens Pretos (Não) Choram"

O homem capaz de comprar na seção de lingerie nunca saiu de extinção. Ninguém parece querer saber, mas todas as vezes que lanço esse assunto entre amigos na mesa de um bar surgem sorrisos, olhares denunciantes e há muito o que se conversar.

Consigo imaginar três motivos pelos quais um homem iria à área das calcinhas de uma loja qualquer: presentear a pessoa com quem transa, apimentar a relação ou para uso próprio. No entanto, todas essas razões parecem perturbar a bolha da masculinidade e colocar o "macho" à prova.

O primeiro motivo está terrivelmente amarrado a um mito milenar: nenhum marido compra lingerie para a esposa, mas sim para a amante. Acertado por essa flecha, o cara compromissado passa longe das calcinhas por vergonha.

O machismo então tece 300 nós para sustentar a bolha do homem no segundo motivo. Afinal, para o machista, apimentar a relação é dever da mulher. A coisa que ele deve honrar mora debaixo de suas pernas e isso já é o suficiente. Inclusive, em muitos casos, se não estiver recebendo o que quer dentro de casa, esse homem está liberado para procurar na rua.

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Calcinha e biquini - Divulgação/Alex Mantesso

O terceiro motivo, por fim, causa na bolha uma explosão maior que a do Big Bang. Que papo é esse? O macho hétero, que gosta de mulher, vai sentir tesão ao vestir uma lingerie...? Ora, o macho gay, que gosta de homem, também não se sente autorizado a isso (pasmem, héteros). É tudo "coisa de mulher".

Acho curioso que todas as razões citadas aqui estejam ligadas ao olhar do outro, da pessoa que vai passar na seção e te olhar, da atendente que vai se aproximar, de uma avaliação que, na maioria das vezes, nunca vai chegar.

Aí, enquanto corremos das rendas, dos bojos e dos fios dentais, milhares de mulheres compram cuecas para seus maridos, filhos, namorados, se bobear até para amigos e pais. Mas não seriam elas as frágeis e delicadas? Bom, o homem tem mesmo é que ser repensado. Rapazes, levem esse papo adiante.

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