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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Descrição de chapéu Congresso Nacional

Senado tenta piorar arquitetura que já estava desfigurada

Atropelos do STF exigem mudanças, mas congressistas só querem evitar contrapeso incômodo a seu poder

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Quando um país desenha sua estrutura política, está criada a arquitetura institucional que deve equilibrar as relações de poder. Um presidente pode vetar um projeto de lei, o Congresso pode derrubar esse veto, e um ministro do STF, indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, pode restabelecer tudo como estava.

A ideia é que cada lado tenha ferramentas que sirvam como contrapesos aos demais para impedir abusos e produzir estabilidade. Vez ou outra, alguma autoridade se sentiria prejudicada. Haveria choro e ranger de dentes, mas, ao final, os objetivos estariam garantidos no agregado.

A investida do Congresso para restringir o poder do STF indica que essa arquitetura se deformou nos últimos tempos e tende a ficar ainda mais desfigurada. O Senado aprovou nesta quarta-feira (22) a proposta que limita decisões individuais e cria regras para dificultar os pedidos de vista, que interrompem julgamentos no tribunal.

A corte não é inocente. Muitos atropelos cometidos pelo Supremo tiveram a marca da vontade particular de alguns ministros, que sequestraram processos em suas gavetas ou soltaram canetadas sem submetê-las ao crivo do plenário.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, em cerimônia no tribunal - Pedro Ladeira/Folhapress

De fato, o tribunal estaria melhor se agisse apenas de forma colegiada. O próprio STF caminhou nessa direção ao estabelecer prazos para que decisões individuais sejam levadas aos demais ministros. Mas seria ingenuidade acreditar que o Congresso resolveu melhorar o desenho da corte num impulso desinteressado.

O Senado só decidiu se mexer depois que o tribunal acabou com a farra bilionária das emendas de relator e abriu caminho para descriminalizar o uso de maconha. Os casos envolveram julgamentos colegiados, mas deram combustível para a retaliação dos parlamentares.

Na prática, os congressistas querem neutralizar um daqueles incômodos contrapesos que limitam seu poder. O tribunal, por sua vez, quer manter uma autoridade inchada. O mais provável é que, no fim das contas, o edifício continue torto.

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