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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Narrativas paralisantes

Ideia de tudo ou nada nunca fez sentido em aprendizagem

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Na semana passada, saíram os resultados do Ideb, mostrando os avanços obtidos na educação básica. Longe de mostrar uma fotografia de 2019, os resultados educacionais registram o produto de uma longa jornada de tentativas de aperfeiçoamento do ensino oferecido nas escolas brasileiras.

Sim, demos um salto no ensino médio, mas isso resultou não só do esforço dos secretários naquele ano mas também de melhorias introduzidas antes, como adicionar um ano ao ensino fundamental, passar a enfatizar alfabetização na idade certa, criar escolas de tempo integral, avaliar a aprendizagem e buscar evitar o abandono escolar.

Mais recentemente, a aprovação da Base Nacional Comum Curricular —e sua tradução em currículos— contribuiu para uma definição clara do que os alunos devem aprender a cada etapa. Isso ajudou a aperfeiçoar os livros didáticos e a organizar o trabalho dos mestres, especialmente onde se investiu da maneira correta na formação de professores.

Os resultados são insuficientes, mas mostram que estamos na direção certa, embora num ritmo lento. Ainda temos um percurso longo a trilhar e precisamos pisar no acelerador!

Nesse contexto, tudo o que não queremos são narrativas paralisantes, como “não há o que celebrar, porque o Saeb, teste em que se baseia o Ideb, só mede português e matemática”, ou “não faz sentido oferecer aprendizagem em casa, pois os jovens não contam com conectividade”, ou ainda “o que é um ano de escola para uma criança ou jovem?”.

O Saeb é uma avaliação respeitada internacionalmente e busca aferir a competência dos alunos para ler e interpretar textos, bem como seu raciocínio matemático, em níveis crescentes de complexidade, de acordo com a série frequentada. Ora, embora isso não avalie tudo o que o estudante aprende, é uma boa base para quase todas as disciplinas.

Celebrar avanços e buscar melhorias incrementais é muito importante para a educação. Além disso, imaginar que se alguns não têm acesso à internet nada pode ser feito para assegurar alguma aprendizagem é desconhecer o potencial de outras mídias e aceitar um imenso crescimento da desigualdade educacional causado pela Covid, sem nem ao menos tentar fazer algo a respeito. Da mesma maneira, subestimar perdas e deixar para depois pode gerar abandono escolar.

O interessante é que nenhuma dessas narrativas parece ter vingado. Houve uma celebração dos avanços, muitos professores foram para a linha de frente tentar assegurar aprendizagem em casa, usando diferentes mídias.

A ideia de tudo ou nada nunca fez sentido em aprendizagem. Por sorte, o Brasil preferiu outra abordagem.

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