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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Mentiras e verdades, o triste papel da desinformação

Só é possível libertar-se de mistificações intencionais por meio do pensamento crítico

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Findos o processo eleitoral e os distúrbios que a ele se associaram, as redes sociais seguiram repletas de notícias fabulosas que chegaram mesmo a incluir uma pretensa presidente do Tribunal de Haia associada ao nome civil e a uma foto de Lady Gaga ou a uma alegada prisão do presidente do TSE, entre inúmeros outros relatos assemelhados aos que consumíamos durante a pandemia.

Mas, fatos como esses, por tristes que sejam, não são novos na história da humanidade. Em dois livros que li recentemente, o "Livre" da escritora albanesa Lea Ypi e o "Fome Vermelha" da Anne Applebaum, a desinformação aparece, em tempos passados, com consequências, por vezes, trágicas.

Lady Gaga estrela fake news de grupos bolsonaristas que pedem 'intervenção federal' - Reprodução/Twitter

A primeira obra, autobiográfica, retratando a infância e juventude da premiada autora e professora de ciência política na London School of Economics, mostra como, durante o regime de Enver Hoxha, seus pais tiveram que ocultar-lhe fatos de suas histórias de vida ou "biografias", para evitar que sofresse perseguições na escola ou que entregasse inadvertidamente seus pais ao regime. Além disso, a verdadeira situação vivida pelo país era encoberta pela mitificação do líder e de Stálin, o que fez com que Ypi, ao perder a inocência e perceber o que ocorrera, pudesse olhar de forma crítica inclusive para os que se opuseram ao partido na guerra civil de 1997 e que também tentavam encobrir verdades.

O livro de Anne Applebaum, um relato impressionante e bem documentado da grande fome de 1932 a 1934 na Ucrânia, traz a constatação de que autocracias são capazes de intencionalmente dizimar milhares de pessoas para enfrentar riscos percebidos ao seu poder totalitário, como fez Stálin, usando como uma de suas armas a desinformação. O recolhimento de praticamente todos os grãos disponíveis em boa parte do país, a partir de cotas impossíveis de serem atingidas, teoricamente para financiar a industrialização e, mais tarde, para punir pequenos camponeses resistentes às fazendas coletivas, resultou numa fome que levou não só à morte por inanição, mas à destruição completa de cidades inteiras no país.

Um grande esforço foi feito para apagar os arquivos, mudar dados do censo de 1937 que iria revelar o que ocorrera na verdade: um plano para substituir boa parte da população ucraniana anterior por russos e poder, assim, ter de fato a Ucrânia como uma colônia bem-comportada sob a gestão de Stálin.

A desinformação assume múltiplos formatos e vem de diferentes fontes. Mas só é possível libertar-se de mistificações intencionais por meio da promoção do pensamento crítico e da desconstrução democrática de projetos totalitários.

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