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Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

Troca-troca

Viver é trocar -- o que, absolutamente, não garante a entrega

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Tinha aquela velha prática, que continua em prática, a de se prometer mundos e fundos para as crianças fazerem aquilo que os adultos queriam que elas fizessem. Se passar de ano, ganha um autorama no Natal. Se obedecer, ganha uma Barbie de aniversário. Se estudar para a prova, tem direito a jogar bola. Se pular da cama na hora da aula, pode ver a novela no sábado. Essa última era uma troca muito sem graça, esperar a semana inteira para ver um capítulo e se contentar com o relato da mãe nos outros dias. Sendo que, qual uma censora, ela cortava os beijos e as maldades —como se não fossem importantes na trama. 

Muitas vezes a criança cumpria tudo e, mesmo assim, a recompensa não vinha. Ou então ficava para mais tarde. Se passar na escola no ano que vem, ganha  um autorama 
no Natal. A infância tratada como uma eterna transação.

A bem da verdade, esse troca-troca continua vida afora, aí disfarçado de relações trabalhistas, comerciais, econômicas, políticas, até amorosas —com terceiros ou com a gente mesma. Eu me mato na academia para comer uma tonelada de brigadeiros no fim de semana. Eu tomo um café com a sua mãe, mas o almoço de domingo é com a minha. Viver é  trocar, às vezes de um jeito bem descarado. Emendas parlamentares são um bom, ou um péssimo, exemplo.

Por tudo isso, não espanta o governo brasileiro fazer tantas concessões aos Estados Unidos para, bancado pelos brothers, entrar no bonde dos países mais ricos, a tal Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Mas também não espanta nadinha a bola preta que o Brasil levou do governo americano, que não vai apoiar esse ingresso agora. Os tuítes do Trump dizendo que o Brasil ainda fará parte da OCDE lembram a promessa de que o Papai Noel vai trazer um videogame, mas só no ano que vem. Ou no outro ano. Ou no outro.

Assim como doía ver o irmãozinho mais bem comportado ganhando um presente melhor, deve ser duro saber que a Argentina tem o apoio dos americanos para entrar no clube já. 

O que será que o Macri prometeu que a gente esqueceu de empenhar? Troca-troca é assim, às vezes termina com um menino enganado, chorando no escuro do quarto.

É de pequenino que se aprende a entubar o pepino.

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