Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Todo mundo tem alguma coisa que todo mundo tem

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Todo mundo já teve um ataque de riso na hora errada. Talvez não tão grave quanto os que sofre o Coringa de Joaquin Phoenix no sensacional filme em cartaz, mas já teve.

Na frente do namorado quando ele ficou magoado por alguma besteira —o que só aumentou a mágoa. Na frente do chefe ao explicar que o projeto não ficou pronto, e ainda bem que esse destempero aconteceu na vigência de leis trabalhistas menos, digamos, severas. Na frente do policial que parou seu carro, na frente do policial que mandou você encostar na parede na saída do seu expediente, e sorte que você está aqui para contar. Na frente do seu pai, do juiz, da professora, da diretora, do crush do Tinder no primeiro encontro, da psiquiatra que estava pensando em lhe dar alta. Na hora da prova, na hora do almoço, na hora da missa, na hora do sexo, há hora do funeral, na hora do rush, no minuto de silêncio. Coloque um sorriso nessa cara, diz o Coringa de Joaquin Phoenix. Só não exagere.

Duas pessoas com vestidos se olham uma de frente para a outra, cada uma tem um coração no peito. Uma é rosa com vestido azul e um coque alto no cabelo, ela está com os braços levantados e expressão feliz. A outra é azul com o vestido rosa e tem cabelo curto ela está apontando o coração da outra pessoa
Publicada nesta segunda-feira, 7 de outubro de 2019 - Cyntia Bonacossa/Folhapress

Todo mundo tem um vizinho que não dá bom dia. O elevador para no décimo e você já sabe: é ele. Antes que resolva ir pelas escadas, a porta do elevador se abre. Seu vizinho está dentro para uma descida em silêncio constrangido. Constrangimento seu, óbvio. Ele mantém a cara de pedra basáltica que tanto pode significar desprezo quanto uma simples indiferença pela sua existência. Qualquer alternativa é perturbadora, e você passa sete andares tentando lembrar quando aquilo começou. Na assembleia de condomínio não foi, você é locatário e não participa. Será que é isso? Como proprietário, ele se acha melhor que quem paga o aluguel em dia e ajuda a manter o condomínio sempre em obras com as taxas inexplicáveis que brotam a cada fatura? Se for isso, você vai denunciar seu vizinho no conselho do prédio. A Constituição assegura que todos são iguais. Você sabe que é balela, mas vai denunciar mesmo assim. O elevador chega ao térreo. Você fica em dúvida sobre segurar a porta para ele, mas não consegue trair a educação que sua mãe lhe deu. Não apenas segura, como ainda dá um bom dia que ele não responde. Decidido, você vai denunciar seu vizinho para a síndica. Então lembra que a síndica é casada com ele. 

Todo mundo tem frieira, olheira, dor de barriga, dor de cabeça, contas vencidas, uma desculpa, uma preocupação, uma ideia. Todo mundo é tão parecido. Que bom que a gente não está sozinho nessa.
 

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