Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.
O problema não é de relações sexuais ou afetivas, mas de relações de poder
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Está muito difícil conversar no mundo moderno. Em vez de trocar ideias, as pessoas andam trocando insultos, de que dá prova –apenas a mais recente delas– a polêmica sobre assédio sexual.
Resumo dos "argumentos" usados por um lado e outro na disputa entre as apoiadoras do movimento "#Metoo", que denuncia o assédio sexual, e as mulheres, basicamente francesas, que reagiram contra ele: "equivocada, reacionária, antifeminista, retrógrada, ultrapassada, privilegiada, alienada, apologista do estupro, defensora da pedofilia", como mostrou a reportagem deste sábado (13) da sempre excelente Patrícia Campos Mello.
O problema é que adversárias do #Metoo" deixam claro que não sabem onde termina uma "cantada insistente e desajeitada" e onde começa o assédio, conforme a pergunta que a Folha fez a Catherine Millet, a escritora que é uma das autoras do manifesto contra as críticas do assédio.
Resposta de Millet à corretíssima pergunta de Mário Camera: "Eu adoraria que alguém me explicasse".
Mariliz Pereira Jorge, uma das minhas colunistas preferidas, propôs em coluna recente a seguinte, digamos, lei: "Assédio é crime. Paquera deve ser usada sem moderação".
Boa, Mariliz, de pleno acordo, mas é preciso acrescentar um ponto que me parece ter ficado ausente da polêmica: o problema não é de relações afetivas entre homem e mulher, mas de relações de poder.
A turma de Catherine Millet defende a tese de que pôr a mão no joelho de uma mulher não é necessariamente assédio. Até concordo, desde que homem e mulher no caso estejam no mesmo degrau na hierarquia planetária.
Se é assim e ela não gostou da mão no joelho, diz "tira a mão daí" e a história termina.
Se, no entanto, o homem tem poder para prejudicar a mulher (na carreira, na vida, no emprego, onde for), aí a mão no joelho é assédio. Aí a "paquera desajeitada" toma jeito de assédio - e assédio é crime.
É preciso ter presente que todos os homens até aqui denunciados não eram "joões", mas "harveys weinsteins". E a esmagadora maioria confessou comportamento no mínimo inadequado. Alguns até iniciaram tratamento.
Expô-los não é uma reação conservadora ou puritana, como querem as adversárias do "#metoo", mas uma afirmação das mulheres de que não aceitam mais o medieval "direito de pernada" dos poderosos do momento.
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