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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

O que o letreiro de Hollywood, Lana Del Rey e um drinque têm em comum

Com 15 metros de altura, atração turística tem cem anos e história que se cruza com música da cantora

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Uma bolsa, um sapato e um casaco. Estavam jogados sob as famosas letras de Hollywood. Uma mulher que passava encontrou os objetos. Dentro da bolsa havia uma nota de suicídio. Longe das luzes da ribalta, um corpo.

Famoso letreiro de Hollywood é visto de rua residencial de Hollywood, na Califórnia, nos EUA - Robyn Beck/AFP Photo

Peg Entwistle era uma atriz galesa de talento. Encenou Ibsen e Shakespeare na Broadway e recebeu elogios da crítica e admiração de Bette Davis, que declarou querer "ser como ela", numa inversão do papel que faria em "A malvada".

Um dos parceiros de palco da atriz deprimida, que não resistiu às dificuldades de entrar para o mundo do cinema, era um tal Humphrey Bogart, sempre com cigarro na mão e um drinque na outra.

O letreiro sobre as montanhas em Los Angeles existe há exatos cem anos. No sensacional "O Vendido" Paul Beatty compara o monumento a "antigas maravilhas da engenharia como o Partenon (...) e as grandes pirâmides."

O exagero irônico faz ainda mais sentido quando se sabe que as letras gigantes —hoje têm cerca de 15 metros de altura e 137 de comprimento— antes indicavam um empreendimento imobiliário. O produtor Howard Hughes foi um dos compradores. Daí que o "Hollywood" era acrescido de "Land" —Hollywoodland. Muito comprido para caber no inconsciente coletivo.

O crescimento da indústria cinematográfica na cidade abaixo tratou de espelhar o letreiro à sua semelhança, deixando apenas o nome do distrito onde ficavam alguns dos grandes estúdios e as estrelas que pavimentam a Calçada da Fama.

A atriz que pulou do "H" em 1932, aos 24 anos, virou mais uma atração turística, uma lenda lúgubre. Em "Lust for Life", Lana Del Rey, mencionando Entwistle, canta: "dizem que os bons morrem cedo". No clipe da canção, ela aparece no alto do letreiro de Hollywood, dançando com o parceiro The Weeknd e celebrando a vida ao mesmo tempo que se arrisca a cair.

Del Rey sempre flertou com o perigo. Aos 14 anos os pais a mandaram para um internato para que ela parasse de beber. Aparentemente não funcionou, já que as bebidas, as drogas e charme indiscreto do hedonismo são presença constante em suas músicas. Uma delas, por exemplo, chama-se "Bartender".

Sua imagem é calculadamente ligada ao glamour das grandes estrelas da época de ouro de Hollywood. Os cabelos lembram Lana Turner, que inspirou o nome adotado (Del Rey veio de um automóvel vintage.) E a figura esguia, de cintura fina e pernas longas, rima visualmente com belas taças de martini.

A série "Hollywood", em que os personagens só param de tomar coquetéis para respirar, é uma festa dos sentidos e também se utiliza do centenário letreiro e do salto fatídico. Bem intencionada e um tanto sentimental, a ficção de Ryan Murphy muda o destino de Entwistle na hora H.

É uma releitura politicamente correta dos bastidores do cinema, simpática, mas um tanto forçada e simplista. A despeito das falhas, torcemos muito para os personagens que enfrentam o racismo e a homofobia. Na abertura, eles sobem as letras que formam o símbolo do cinema clássico. O sentido é onírico e triunfante, de conquista dos holofotes.

Ambos com projetos ligados à psicodelia de "Alice No País das Maravilhas", Lana Del Rey e Aldous Huxley, que morou numa casa sob o segundo "O", têm visões menos açucaradas. Ela com sua melancolia suntuosa, ele abrindo as portas da percepção.

HOLLYWOOD

Ingredientes

  • 45 ml de rum branco
  • 10 ml de suco fresco de toranja
  • 5 ml de grenadine
  • 2,5 ml de xarope de açúcar
  • 15 ml de clara de ovo

Como fazer
Bata os ingredientes primeiro a seco e depois com gelo. Coe para uma taça coupe gelada.

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