Descrição de chapéu Artes Cênicas

Broadway renasce após a ômicron, mais barata e até com aplausos espontâneos

Com 20 espetáculos em cartaz em seus 41 teatros, circuito vê o público aumentar semana a semana

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Nova York

​Com os preços das entradas em queda, os espetáculos em cartaz na Broadway —eram 20 na semana passada, em 41 teatros— começam a ver suas plateias cada vez mais cheias. Na última semana de janeiro, 75% dos assentos estavam ocupados. Na semana anterior foram 66%, e na primeira do ano, 62%.

Ingressos para blockbusters como "Hamilton", que chegaram a valer US$ 900 em janeiro de 2020, antes da chegada do coronavírus, são vendidos agora por US$ 299.

"O Rei Leão", que tinha ingressos lotados com meses de antecedência, agora vende entradas para o mesmo dia com descontos de 20% a 50%, nas bilheterias TKTS, na Times Square, praça formada no encontro da Sétima Avenida com a Broadway —que não é bem uma avenida, mas sim uma "via larga", na tradução literal—, em volta da qual fica a maioria das casas do circuito Broadway, onde as grandes produções teatrais de Nova York, muitas delas musicais, se apresentam.

O ingresso mais caro desta temporada é para o revival de "The Music Man", com Hugh Jackman, a maior estrela em cartaz atualmente, que chega a US$ 699. Foi a maior estreia desta temporada até agora, em 10 de fevereiro.

"The Music Man", de Meredith Willson, entrou em cartaz pela primeira vez na Broadway em 1957 e já era um espetáculo "old fashioned" —a trama se passa em 1912, em uma cidadezinha do estado de Iowa. Virou longa-metragem há 60 anos, com o mesmo ator da montagem original do teatro, Robert Preston. Um telefilme, com Matthew Broderick no papel principal, foi produzido em 2003.

Com o australiano Hugh Jackman como protagonista, em sua volta à Broadway depois de 11 anos, quando apresentou o monólogo "Hugh Jackman: Back on Broadway" —remontado em 2019 em uma turnê internacional—, sempre com a casa lotada e ótimas críticas, "The Music Man" é o musical blockbuster do momento.

A montagem teve uma trajetória complicada. A estreia estava programada para outubro de 2020. A pandemia atrapalhou os planos, mas, além disso, o produtor do espetáculo, Scott Rudin, foi acusado de ter comportamento profissional abusivo por seus assistentes e deixou o projeto.

Há outras peças ambiciosas e com estrelas conhecidas entrando em cartaz, especialmente "Plaza Suite", de Neil Simon, com Sarah Jessica Parker e Matthew Broderick, que estreou para os críticos na última sexta-feira.

Em setembro de 2021, quando a cidade lembrou os 20 anos do ataque terrorista que derrubou o World Trade Center, a peça "Pass Over", de Antoinette Nwandu —que teve uma de suas primeiras apresentações em Chicago, há cinco anos, filmada e adaptada para o cinema por Spike Lee e está disponível no Amazon Prime—, era o espetáculo "must see" da temporada. A peça saiu de cartaz no mês seguinte.

Atraía público e interesse dos jornalistas, antes mesmo de o resto da Broadway ter decidido voltar a abrir seus teatros. A variante delta tinha feito os números da pandemia voltarem a subir em Nova York, e tanto os turistas quanto os artistas de rua ainda preferiam manter a distância recomendada.

Assistir à peça era um ato de coragem e rebeldia, que esta repórter não arriscou, apesar das afirmações dos críticos de que "Pass Over" era uma experiência teatral alucinante, dramática e imperdível. Na época, as ruas do Theatre District, onde ficam a Times Square e a maior parte das casas de espetáculo, estavam completamente vazias, coisa que só se vê em filmes de suspense.

Na segunda semana de fevereiro, a Times Square já tinha recuperado seus sinais vitais. Na entrada dos teatros, os bilheteiros e lanterninhas cumprimentavam o público com um orgulhoso "bem-vindo de volta à Broadway". Então, checavam o cartão de vacina e comparavam com um documento com foto, antes de conferir o ingresso.

Dentro das salas, cada espetáculo inseria em seu estilo o modo como avisar a plateia de que, além de desligar os celulares —ou pelo menos não filmar ou tirar muitas fotos, como pede David Byrne, sabendo que isso vai acontecer—, devem manter a boca e o nariz cobertos pela máscara, a não ser que estejam comendo ou bebendo.

A energia da Broadway está de volta. A ligação visceral entre palco e plateia pareceu, nos dois espetáculos vistos pela reportagem, viva, pulsante. Quem corre o risco de sentar ao lado de desconhecidos e respirar o mesmo ar que outras 200, 300 pessoas, em frente a um elenco sem máscara, o faz porque está com sede daquela vivência.

Mas isso não foi suficiente para garantir a sobrevivência de todos os 31 espetáculos que estavam em cartaz antes da pandemia, em março de 2020.

Os que não tinham uma garantia de fãs incondicionais, como no caso de "MJ", que tinha três quartos da plateia na apresentação do último dia 13 de fevereiro —ingresso para um lugar na segunda fileira, no centro, comprado quatro dias antes a US$ 173,25—, que conta os bastidores da turnê "Dangerous", de Michael Jackson, em que cada número musical é aplaudido vigorosamente, muitas vezes com o público de pé, acabaram sofrendo.

Atores em sessão de fotos com o elenco do musical da Broadway 'The Music Man' - Carlo Allegri/Reuters

O show-peça "American Utopia", de David Byrne, que se apresenta com a casa lotada —ingresso para um lugar numa das últimas fileiras, no centro, comprado sete dias antes a US$ 132,33—, avisa que os bombeiros permitem que o público dance na plateia, o que muitos fazem, desde que não obstruam as saídas de emergência. O músico abre a noite agradecendo ao público por ter saído de casa, e, no meio da apresentação, encoraja as pessoas a levantarem de seus assentos, "sei que ainda parece esquisito dançar no escuro rodeado de estranhos".

"Jagged Little Pill", por exemplo, baseado no álbum de mesmo nome da cantora Alanis Morissette, lançado em 1995, não resistiu à pandemia. Durante os 19 meses em que a Broadway ficou fechada, a produção trocou um dos atores principais e três coadjuvantes. Reestreou em outubro de 2021 sem boa parte do que fazia o show um sucesso de público —e, talvez um pouco por isso, sem grande parte do público. Saiu de cartaz em dezembro e não voltou mais.

No circuito off-Broadway, no entanto, um revival do clássico cult "A Pequena Loja dos Horrores", peça baseada num filme de 1986, com Rick Moranis e Ellen Greene nos papeis principais e Steve Martin como coadjuvante —por sua vez baseado em outro filme, esse de 1960, que marcou a estreia de Jack Nicholson no cinema—, vem lotando o pequeno teatro Westside, em Hell’s Kitchen, e está sendo considerado uma das maiores surpresas dessa estranha temporada.

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