Sou uma cientista empírica e acredito que devemos testar a retórica
Humanos fazem retórica, e cientistas são humanos
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No regresso de Glasgow, na Escócia, após participar de uma comemoração pelos 300 anos de nascimento de Adam Smith (1723-1790), li o último testamento intelectual do orgulhosamente canadense-escocês John Kenneth Galbraith (1908-2006), um pequeno panfleto de 2004 — "A Economia das Fraudes Inocentes".
A "fraude" é a crença de que os mercados funcionam muito bem. A fraude, mito, erro, tolice é "inocente" se o crente não leu Kenneth Galbraith o suficiente para saber a verdade, ou seja, que as grandes corporações dirigem as nossas vidas.
Li "A Sociedade Afluente" (1958) logo após o seu lançamento e engoli a retórica de Galbraith de que a "sabedoria convencional" em favor dos mercados é uma fraude.
Diferentemente de economistas do livre mercado, como Milton Friedman, eu acreditava que os gestores corporativos determinavam o que é feito e comprado, que os gestores "manipulavam" os consumidores, que os mercados de ações não disciplinavam os gestores, que os sindicatos surgiam como "poderes compensatórios" às corporações, que o Estado podia agir como um árbitro honesto entre tais poderes —embora, infelizmente, as corporações tivessem corrompido o Estado a partir de escritórios na K Street de Washington.
Ainda acredito na última verdade galbraithiana. Milton Friedman também acreditava. Vivo e trabalho hoje a 200 metros da K Street e a poucos quilômetros do Pentágono, onde o "complexo militar-industrial", expressão que Galbraith adotou entusiasticamente do presidente Eisenhower em 1960, decide quais aviões de caça fabricar e comprar.
O filho de Galbraith, James K. Galbraith, conhecido entre seus amigos pelo apelido escocês Jamie, editou em 2010 uma coleção que incluía "O Novo Estado Industrial" (1987), de seu pai. Jamie é, como o pai, um economista da esquerda moderada. Mas também é um estudioso sério dos fatos reais da economia. Galbraith pai estudou apenas a retórica. Estudos retóricos são absolutamente necessários. A ciência econômica e a política têm de fato uma "retórica", que Aristóteles definiu como "os meios de persuasão disponíveis". Humanos fazem retórica, e cientistas são humanos. Bom.
Mas, assim como Jamie, eu também sou uma cientista empírica e acredito que devemos testar a retórica do mundo. Quando escrevi uma resenha crítica do livro de 2010, disse a Jamie: "O livro não oferece evidências". Para minha surpresa, ele respondeu: "Sim, concordo. Papai não testou factualmente. Minha carreira tem sido fazer isso".
Bom para você, Jamie.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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