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Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

Descrição de chapéu Coronavírus

Vacinas podem falhar?

O que é o escape vacinal e quais suas implicações para o controle da pandemia de Covid-19

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São pessoas próximas, conhecidas ou anônimas. Todos ouviram falar de pessoas que foram vacinadas contra Covid-19 e, mesmo assim, desenvolveram a doença. Alguns, com formas graves, não sobreviveram.

Esses casos trazem dúvidas sobre a capacidade protetora das vacinas e, por vezes, alimentam teorias conspiratórias. Cabe, portanto, discutirmos o assunto à luz do que sabemos sobre vacinas em geral e o que conhecemos, até o momento, sobre as que chegaram para proteger contra Covid-19.

O termo inglês “breakthrough infection” descreve a situação onde um germe causa doença mesmo em pessoas que foram vacinadas contra ele. Infecções que “rompem barreiras”. Tais falhas vacinais podem acontecer com qualquer tipo de vacina, dado que não há nenhuma que seja 100% eficaz.

Profissional da saúde aplica vacina contra a Covid em jovem de 18 anos em São Paulo - Carla Carniel - 16.ago.2021/Reuters

Há cerca de dois anos foram detectados vários casos de caxumba em jovens brasileiros, mesmo após terem tomado mais de uma dose da vacina. A vacina da gripe, embora amplamente utilizada, tem efeito variável a cada ano, pois os vírus da gripe em circulação em dado ano podem ser um pouco diferentes daqueles utilizados para fazer a vacina baseados nos vírus do ano anterior.

Os casos de Covid-19 em vacinados, portanto, não são uma surpresa. Da mesma forma, ocorrem casos de internação e, mais raramente, casos de mortes pela doença, também em vacinados.

Precisa estar claro, contudo, que a chance de ocorrerem novos casos, internações e mortes pela Covid-19 em vacinados é muito, mas muito menos comum que em quem não tomou a vacina. Tal constatação parece persistir com todas as variantes do novo coronavírus, até então, incluindo a delta.

Alguns críticos de vacinas têm usado esses casos de falhas como argumento para desencorajar seu uso, o que é, no mínimo, desonesto. A queda no número de casos, internações e mortes, que tem permitido a discussão de certa flexibilização de medidas não farmacológicas de proteção e as tentativas de retomada econômica, está acontecendo principalmente por mérito das vacinas. A malversação de fatos, com abordagem sensacionalista, é prejudicial a todos e deveria ser combatida.

Outras discussões são, sim, importantes, para explorar como reduzir a ocorrência destas falhas.

Uma possibilidade seria o uso de doses adicionais de reforço vacinal. Até agora, há pouca informação sobre a durabilidade da proteção vacinal, pois seu emprego foi instituído há pouco tempo (as primeiras vacinas receberam autorização para uso no fim de 2020).

Será preciso o uso de uma terceira dose? Somente o acompanhamento da proteção de pessoas que usaram as diferentes vacinas trará a resposta. No Brasil, particularmente, é importante observarmos o que acontece com a Covid-19 em pessoas acima de 80 anos, que foram as primeiras a serem vacinadas no país com a Coronavac. Nestes, a proteção até agora tem se mantido.

Serão necessárias vacinas específicas contra outras variantes, em especial a delta? Como já discutido aqui, esta variante parece exigir mais da resposta vacinal e depende da vacinação completa para proteção, em geral com duas doses.

Todas essas considerações terão que passar por revisões caso surjam outras variantes preocupantes do novo coronavírus —isto é, aquelas que conseguem ser transmitidas para muitas pessoas, prevalecendo em uma região.

O que podemos aprender com as pessoas que apresentam falhas de vacinas? Talvez elas guardem a explicação. É preciso, portanto, estudá-las para entender exatamente o que falhou e como podemos minimizar esse risco.

Assim, conseguiremos desenvolver vacinas cada vez melhores.

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