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Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

Meio ambiente

Para Bolsonaro, tema só não é mais desprezível do que a liberdade de imprensa

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Bolsonaro editou medida provisória desobrigando empresas de capital aberto de publicar seus balanços em jornais impressos. Com sua espontaneidade característica, sugeriu que o objetivo era comprometer a sustentabilidade do jornal Valor, que, na sua opinião, não vende o que ele próprio entende por verdade, mas faz política partidária. E concluiu seu discurso: "Espero que o jornal Valor sobreviva à MP de ontem".

No dia seguinte, na expectativa de consertar velhos estragos, produzindo novos, corrigiu-se, dizendo que a intenção, na verdade, não era retaliar quem o criticava, mas evitar o desmatamento.

Como tudo, escapa-lhe o compromisso da indústria brasileira de papel e celulose com o reflorestamento, até como expediente de, pela certificação de origem da madeira, enfrentar a concorrência internacional predatória.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles - Pedro Ladeira - 1.ago.2019/Folhapress

Um deboche pelo outro, fica claro que, na hierarquia de valores de Bolsonaro, só a liberdade de imprensa é mais desprezível do que o meio ambiente, segundo ele, preocupação exclusiva de veganos.

Angela Merkel e Emmanuel Macron não são veganos, que eu saiba, mas parecem bastante preocupados com o descaso do governo brasileiro com o meio ambiente. Em julho, a área da Amazônia com alerta de desmatamento subiu 278%, comparada ao mesmo mês de 2018.

Bolsonaro, por seu lado, num evento da indústria automotiva, referindo-se à reunião do G-20, desdenhou dos dois chefes de governo com mais ironia: "Imagina o prazer que eu tive de conversar com Macron e Merkel". Depois de dizer que "agora [o Brasil] tem presidente da República", deixou o evento sob gritos de "mito", bradados pela seleta audiência.

Merkel foi ainda ofendida pelo vice-presidente da República. Mourão, subvertendo fatos, associou os recentes tremores em público da chanceler a um suposto medo que ela teria das encaradas de Donald Trump. Seria oportuno se fôssemos apresentados a um único militar bolsonarista que defenda o Brasil com a coragem com que Merkel defende a Alemanha.

Mourão foi além, chamando Donald Trump de "nosso presidente", dando nome e sobrenome àquele a quem Bolsonaro talvez tenha se referido um dia antes.

O fato concreto é que, por imposição do acordo Mercosul-UE, o Brasil não poderá, para seu próprio bem, abandonar o Acordo de Paris sobre mudança climática, a menos que rompa aquele acordo.

Trump escalou seu secretário de Comércio para soprar a um Bolsonaro assumidamente "cada vez mais apaixonado" as supostas armadilhas da aproximação com a Europa, sem especificá-las.

Talvez seja o caso de se preocupar mais com as armadilhas do amor, sentimento raramente presente no tabuleiro da geopolítica mundial.

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