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Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

Brasil precisa ficar longe da porta do bar

País não deve cair na tentação de acelerar crescimento sem terminar ajustes

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Houve um tempo em que crises eram associadas a bebidas. Tomadas em excesso, destruiriam não só os países bebedores, mas levariam à sarjeta vizinhos vulneráveis.

Após o lançamento do Plano Real, em 1994, o Brasil sofreu com o “efeito tequila” da quebra mexicana. Em 1997, foi perseguido por tigres asiáticos em crise (Tailândia, Malásia e Coreia) e, no ano seguinte, pelo “efeito vodka” da Rússia.

Não demoraria para chegarmos à caipirinha no mesmo 1998: o Brasil quebrou e recebeu o maior empréstimo até então do FMI, de US$ 41,5 bilhões. Mesmo assim, o real sofreria forte desvalorização em 1999.

 

Em 2001 veio o “efeito tango”, e a Argentina quebrou abandonando a paridade 1 para 1 entre dólar e peso. Sem resolver problemas de fundo, viveu em crise até sucumbir de novo em 2018, tornando-se agora recordista no Fundo, com um papagaio de US$ 56,3 bilhões.

Nesta semana, a ex-diretora-gerente adjunta do FMI Anne Krueger comparou a Argentina a um doente crônico com uma vida desregrada. Ao sair do médico com receita de dez dias de antibiótico e moderação, tomou três dias do remédio e sentiu-se bem. Voltou à farra e acabou na UTI.

Se os coquetéis do passado saíram de moda, a analogia de Krueger é um alerta ao Brasil no momento em que e alguns chamam o país de volta ao bar. Justamente quando o tratamento começa a dar resultado.

Na terça (24), a Receita Federal anunciou alta de 1,54% na arrecadação em agosto, já desconsideradas receitas atípicas. O melhor resultado em cinco anos é quase o dobro do PIB previsto (0,86%). No ano, a receita subiu 2,4% ante 2018, revelando a recuperação a caminho.

Um crescimento mais acelerado seria desejável. Mas o risco de buscar isso com mais gasto público é o de acabarmos no chão antes mesmo de levantar.

Com 93% das despesas federais consumidas por gastos obrigatórios que crescem há décadas acima da inflação, não há alternativa a não ser perseverar no ajuste e reformar. Primeiro a Previdência; depois, o Estado e regras para o funcionalismo.

Nesse caminho, o que importa são os sinais: juro real mais baixo da história, com menor pressão sobre a dívida pública; inflação abaixo da meta; risco-país no patamar mais confortável em seis anos.

Em qualquer ciclo de melhora, o último a se manifestar é sempre o emprego. Em agosto, com 121,4 mil novas vagas, o país teve o melhor saldo em seis anos. Já o resultado das empresas com ações na Bolsa foi o melhor desde 2010.

É isso o que interessa –e passar longe da porta do bar.

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