Siga a folha

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

A pergunta agora é quanto Paulo Guedes dura

Em direção ao populismo, presidente aposta que ajuda a informais o sustentará

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A principal acusação de Sergio Moro contra Jair Bolsonaro, de interferência política na Polícia Federal, mostra o avanço do presidente sobre os pilares técnicos do governo e ajuda a explicar o sumiço do ministro Paulo Guedes (Economia).

Bolsonaro estaria apostando, com base em pesquisas, que seu apoio entre as classes baixas subirá após o início do pagamento da ajuda emergencial de R$ 600, por três meses, a milhões de informais durante a pandemia.

Isso, mais a aproximação política com o fisiológico centrão, garantiria ao presidente algum espaço para confrontar Moro e aliviar a barra das investigações sobre seus filhos sem arriscar um processo político; ao mesmo tempo em que promove uma guinada populista na economia.

A forma descuidada com que Bolsonaro deixou Moro sair, mais o anúncio (sem a presença de Guedes) do novo programa de obras públicas do governo seria o início dessa mudança de rumo na economia —captada pelo mercado com a explosão do dólar e a nova derrocada da Bolsa.

Até o início da semana, segundo a Dataprev, 45,2 milhões de pessoas já haviam sido aprovadas para receber o auxílio emergencial. Antes da pandemia, vários milhões delas não tinham renda alguma ou conseguiam menos de R$ 600 ao mês —valor garantido agora por um trimestre.

Simulações feitas pelos economistas Naercio Menezes e Bruno Komatsu, do Insper, mostram que se a ajuda emergencial atingir 32 milhões de pessoas, a taxa de pobreza no país despencará de 16,7% do total da população para 6% —mesmo contando que os informais percam a renda do trabalho.

O ex-ministro Sergio Moro, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, em Brasília - Mateus Bonomi/AGIF

A redução da pobreza atingiria todos os estados e seria mais acentuada no Norte e no Nordeste, onde também está a maioria dos atendidos pelo Bolsa Família.

Vale lembrar que algo semelhante ocorreu no primeiro mandato de Lula no biênio 2005/2006, quando o ex-presidente parecia ferido de morte pelo mensalão e acabou reeleito.

Naquele biênio, o governo praticamente dobrou o total de atendidos pelo Bolsa Família, que passou a atingir cerca de 45 milhões em mais de 11 milhões de famílias. Os valores pagos mais do que dobraram também.

Naquela época, no entanto, o Brasil já estava com as contas em ordem, fazia superávits primários superiores a 3,5% do PIB e o mundo entrava no maior ciclo de expansão sincronizada desde Segunda Guerra.

Isso permitiu ao Brasil importar muito mais com o resultado de suas exportações de commodities, tanto produtos quanto máquinas, o que ajudou a melhorar a produtividade da economia e a sustentar o crescimento.

Bolsonaro não tem nada disso, nem qualquer condição de estender a ajuda aos informais por muito tempo. Ao contrário, ele preside um país quebrado em um mundo em recessão por causa de uma pandemia que vai explodir na sua frente, aniquilando seu discurso da “gripezinha”.

A pergunta agora é quanto Paulo Guedes ainda dura nessas condições.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas