Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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De origem incerta, coronavírus será marco na ascensão chinesa

Com classe média maior que a população dos EUA, China estreitará diferença com rival

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Mesmo após estudos bastante completos sobre a origem natural do novo coronavírus, seguem quentes nos Estados Unidos as suspeitas e acusações de que a China teria criado a Covid-19 em laboratório para se beneficiar economicamente da pandemia.

Independentemente da disputa, é incontestável que a China sairá ganhando dessa história.

Muitos economistas previam que só em mais de uma década o valor em dólares do PIB chinês ultrapassaria o americano —consolidando a liderança que o país já tem no chamado PIB em paridade de poder de compra (PPC), que relaciona poder aquisitivo ao custo de vida local.

Por essa régua, que também é uma medida de riqueza e de bem estar interno, a China já é mais próspera que os EUA —com US$ 27,3 trilhões, ante US$ 21,4 trilhões.

Em dólares, os americanos seguem líderes com um PIB de US$ 22 trilhões (23,6% do total global), seguidos dos US$ 14,1 trilhões dos chineses (15,5%). Mas essa distância vai diminuir bastante neste ano.

Segundo projeções do FMI, o PIB nominal norte-americano encolherá quase 6% em 2020, enquanto o chinês crescerá 1,2%. Como consequência, o desemprego nos EUA poderá saltar a 10,4% e, na China, manter-se perto de 4%.

A aproximação não se restringe a EUA e China, mas a todo o Ocidente (incluindo Europa e América Latina) e ao sudeste asiático, cujos países tendem a sofrer menos os efeitos da pandemia (ver abaixo).

Além do crescimento menor e do desemprego maior, as economias do Ocidente terão de encarar um súbito crescimento do endividamento, já em níveis muito superiores aos de China e outros asiáticos. Demorará muito tempo para digerirem os efeitos disso.

Antes dos pacotes bilionários para atenuar os efeitos da Covid-19, os EUA já deviam o equivalente a 107% de seu PIB; a China, 55,3%. Os países da zona do euro, 86%; os demais asiáticos, 50%. No Brasil, a previsão é que essa medida ultrapasse os 90%.

Os EUA já devem US$ 1,1 trilhão aos chineses, o equivalente a 16% dos US$ 7 trilhões em títulos do Tesouro nas mãos de estrangeiros. O resto dos US$ 24 trilhões da dívida total americana tem como credores os próprios norte-americanos.

Nos anos 1980, economistas acreditavam que o Japão ultrapassaria os Estados Unidos em poucos anos. Os japoneses não só continuaram atrás dos americanos como foram superados pelos chineses.

Entre os grandes países, os EUA são o mais inovador e desregulamentado do mundo, o que vem se traduzindo em saltos tecnológicos e de produtividade que mantém sua liderança econômica e militar há muitas décadas.

Trabalhadores em fábrica de equipamentos hospitalares na China - Xinhua/Zhou Mu

Como a população de 1,3 bilhão da China também é quatro vezes maior que a dos EUA, ainda há uma diferença gigantesca em relação ao PIB per capita dos dois países (US$ 62,7 mil anuais ante US$ 9,8 mil).

Nos próximos anos, porém, a China contará como vantagem justamente o seu gigantesco mercado interno, além da elevada taxa de poupança e o fato de a desigualdade de renda no país ter parado de aumentar há mais de 15 anos.

Nos EUA, em contrapartida, as famílias devem muito, o equivalente a 75% do PIB (ante 55% na China) e a desigualdade de renda, que cresce há 40 anos, disparou na última década.

Em resumo —e guardados os diferentes níveis de renda—, enquanto a classe média norte-americana encolheu de 60% para cerca de 50% da população nas últimas décadas, a da China soma hoje 400 milhões de pessoas, mais do que a população dos EUA.

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