Uma vez fui contratada para um trabalho publicitário, e o dono da agência me apresentou aos clientes como “especialista em humor feminino”. Meu primeiro reflexo foi tentar fugir de lá. Talvez pulando pela janela, minha dor seria menor.

Nada me aproximaria daquela vergonhosa alcunha. Primeiro, porque não existe humor feminino. Segundo, quanto conhecimento seria necessário para me tornar uma especialista em algo?

Há quem diga que, com 10 mil horas de prática, qualquer atividade poderia ser realizada com perfeição. Mas quão especialista em especialistas seria a pessoa que criou tal teoria?

Nesses tempos sombrios, nunca surgiram tantos especialistas em assuntos que pouco ou nada sabem. É provável que as rodas de conversa já fossem aporrinhadas por esses indivíduos desde o Paleolítico, já que “cagar regra” é mais antigo que a própria roda.

Com a chegada da era digital, esses soldados da falta de conhecimento começaram a dar uma de Glauber Rocha do Apocalipse. Com um celular na mão e uma ideia de jerico na cabeça, gravam vídeos para falar “verdades” que estão a anos-luz do território chamado “sob sua alçada”.

É o caso de uma ex-jogadora de vôlei que usa sua credibilidade para questionar a vacina. Qual caminho ela seguiu para achar que pode passar das manchetes nas quadras para as manchetes falsas sobre imunização?

Como também o de um famoso chef de cozinha que gravou um vídeo dizendo que o coronavírus é um plano maligno da China para “dominar a potência econômica dos Estados Unidos”. Como um indivíduo, cuja grande especialidade é o nhoque de mandioquinha, acha que sabe os segredos por trás da virologia e da geopolítica? Se usasse abobrinhas em suas receitas, seria mais coerente.

Existe uma teoria na psicologia chamada de efeito Dunning-Kruger que afirma que quanto menos sabemos sobre um assunto mais achamos que sabemos tudo sobre ele, pois não temos consciência da complexidade real daquilo (vou parar por aqui, pois não sou especialista no assunto).

O problema é quando esse fenômeno começa a atingir a maioria da população. Parece que esse é o plano do governo, que chama de professor um astrólogo que acha que é especialista em absolutamente tudo.

Se seguirmos assim, de Mercúrio retrógrado, continuaremos rumo a um país retrógrado.
Antes que ocorra, confiemos nos especialistas de verdade.