No coração da Faria Lima, uma manifestação chama a atenção do público. Homens, quase todos de camisa social sob medida, protestam contra o governo Bolsonaro.
Alguns circulam com patinetes elétricos. Outros continuam com seus headphones operando ações, pois o mercado não para.
São investidores do mercado financeiro indignados com as promessas de que o presidente não mexeria na economia, enquanto mexe na economia.
“Pode ser que talvez, bem provavelmente, ele não seja o melhor presidente para nós do mercado”, confessa o investidor Giovanni Pistone, conhecido entre os colegas como Gigio.
“O Bolsonaro prometeu que seria conservador nos costumes e liberal na economia”, grita Antônio Farah, investidor que também acredita em horóscopo e meritocracia.
Com um colete de montanhismo, mesmo que sua última escalada tenha sido a social, quando ingressou num clube de elite, o trader Tchelo Mazoni se revolta: “Achava que ele acabaria com tudo isso aí. Não imaginava que isso incluiria meus ativos na Petrobras”.
“Uma coisa é ser racista, homofóbico, xenofóbico, machista e andar de jet ski no meio da pandemia. A outra é interferir na economia. Aí é demais!”, completa Manzoni.
Batendo seus sapatênis no asfalto, manifestantes gritam frases como “banqueiro precisa de dinheiro” e “vai tomar no ânus, eu quero meu bônus”.
No pátio do Edifício Terrazza de San Paolo, um grupo de investidores da Money In The Asset Investment discute.
“O que vai ser do futuro?”, questiona um dos manifestantes. “Estou vendido”, diz outro, confundido com o termo “mercado futuro”. Eles não percebem que fecham a calçada, já que fazem isso diariamente depois do almoço.
“Estou chocado. O presidente deixou queimar florestas? Deixou. Mas, até aí, tudo bem. Só não venha queimar o meu bônus”, diz Fernando Dutra Pinheiro, exibindo a sigla do seu nome bordado na camisa.
“Até a Bê está chamando ele de mentiroso”, conta Gigio, se referindo à Bettina, investidora que tentou convencer o público de que transformou R$ 1.500 em R$ 1 milhão.
Se estão arrependidos de terem votado em Bolsonaro para presidente? Ainda não.
“Pelo menos não é o PT, que arruinou a minha vida”, diz Tchelo, que comprou uma cobertura nos Jardins com seu bônus de 2016.
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