É mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O placebo eleitoral
Como estratégia de campanha, Bolsonaro defender a cloroquina parece ser uma boa ideia
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A ciência, como todos vocês sabem, é comunista. Infectado, Bolsonaro se tornou a “prova” de que a cloroquina dá certo. O raciocínio é simples: ele pegou coronavírus, tomou o remédio e melhorou. Logo, a cloroquina funciona. Por essa construção, a solução poderia ser a bicada da ema...
O ponto é que, como estratégia de campanha, a defesa da cloroquina parece ser uma boa ideia. O presidente sem projeto e do “a culpa não é minha” não precisa que a cloroquina funcione, precisa só que as pessoas acreditem que funciona para que ele possa repetir o “mimimi” que engaja, vejam só a ironia, quem reclama que tudo é “mimimi”.
A estratégia para 2022 é dizer que, por culpa dos seus adversários, as pessoas foram impedidas de se salvar. É uma complementação da já manjada, e equivocada, desculpa de que o STF decidiu que o governo federal não podia criar um plano de enfrentamento à Covid-19. Assim, a cura do coronavírus foi inviabilizada pela oposição, e a crise econômica é culpa da oposição.
A regra Bolsonarista de autoria é: tudo que é ruim não é culpa minha, o que é bom é mérito meu. Tipo interessante —e comum— de meritocracia. Muitos se convencem, talvez deliberadamente. A meritocracia oportunista ajuda os pouco talentosos e irresponsáveis.
Embora eleito, Bolsonaro não governa, segue em campanha. No meio do caminho, entretanto, tinha um tribunal de contas, que apura, no processo 022.765/2020-4, a ocorrência de possível superfaturamento na compra, pelo Comando do Exército, de insumo para a fabricação do medicamento e avalia a decisão de aumentar a produção em 84 vezes nos últimos meses. E isso tudo sem prova científica de que o remédio funciona.
Quando administra o orçamento público, o presidente deve prestar contas. Não pode fazer campanha com o dinheiro dos outros.
Dizem que Bolsonaro está buscando adeptos. Precisa de “cloroquiners”, especialmente entre profissionais da saúde, para escapar do dolo ou da culpa. Vejamos.
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